De: Adalgisa Nery
"Geme no cais o navio cargueiro
No hospital ao lado, o homem enfermo.
O vento da noite recolhe gemidos
Une angústias do mundo ermo.
Maresia transborda do mar em cansaço,
Odor de remédios inunda o espaço.
Máquina e homem, ambos exaustos
Um, pela carga que pesa em seu bojo
Outro, na dor tomando o seu corpo.
Cais, hospital: Portos de espera
E começo de fim da longa viagem.
Chaminés de cargueiros gritando no mar,
Garganta do homem em gemidos no ar.
No fundo, o universo,
O mar infinito,
O céu infinito,
O espírito infinito.
Neblinados em tristezas e medos
Surgem silêncios entre os rochedos.
Chaminés de cargueiros gritando no mar
E a garganta do homem em gemidos no ar."
Poesia e biografia obtida em http://www.revista.agulha.nom.br/adn.html#bio
Foto obtida em http://inspiracoesreunidas.blogspot.com/p/adalgisa-nery.html
Adalgisa Nery, foi poeta, jornalista, prosadora e política. Nasceu no Rio de Janeiro, filha de um funcionário municipal. Órfã de mãe desde os 8 anos, estudou como interna num colégio de freiras. Aos 16 anos, casou-se com o pintor paraense Ismael Nery, um dos precursores do modernismo. O casamento durou até a morte de Ismael, em 1934.
Lançou seu primeiro livro de poemas em 1937. Casou-se em segundas nupcias com o diretor do DIP no estado novo e desfrutou da vida diplomática, vijando pelo mundo.
Separada, dedicou-se ao jornalismo e passou a militante política. Foi deputada três vezes pela legenda do Partido Socialista Brasileiro. Depois do golpe militar de 1964, filiou-se ao MDB e foi cassada em 1969.
Em 1976, Adalgisa recolheu-se a uma clínica para idosos, no Rio. Um ano depois, sofreu um acidente vascular que a deixou hemiplégica. Morreu em 1980.
Autora de poemas, contos, crônicas e romances, Adalgisa teve seus dias de glória. Viúva aos 29 anos e dona de um perfil de mulher fatal, consta que ela destroçava corações. "Acho que todos nós a amávamos, mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de Andrade após a morte dela. Também se sabe que o poeta Murilo Mendes foi perdidamente apaixonado por Adalgisa.
Em "Poesia entre o cais e o hospital" Adalgisa traça um paralelo entre o homem recolhido ao leito hospitalar e o velho navio cargueiro atracado no cais. Ambos moribundos pelo corrosão do tempo. Gemem e rangem nos seus estertores. O começo do fim da longa vida. A espera no cais - leito, gritos ecoam de suas bocas chaminés. No infindo mar-céu, aproxima-se o rochedo que porá fim às suas jornadas.
Por
F@bio
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