domingo, 1 de abril de 2012

A Grande Viagem - Paulo Cesar Pinheiro

O mar tem muito mistério,
A vida muito segredo.
O mar às vezes assusta,
A vida às vezes dá medo.

A gente é só marinheiro,
A vida é como oceano.
No mar tem barco-fantasma,
Na vida tem desengano.

O mar é pura aventura,
A vida é a grande viagem.
Por isso o mar tem quimera
E tem a vida miragem.

O mar é estrada comprida,
A vida é um barco no mar.
O mar vai dar em que vida?
E a vida onde é que vai dar?



Do  livro "Clave de Sal", Editora Griphus. Recolhidos dos sites "releituras" e "sopa de poesia".
Obtido de http://quintalvelho.blogspot.com.br/2011/05/poesia-de-paulo-cesar-pinheiro.html

Paulo César Francisco Pinheiro, carioca, compositor e poeta brasileiro. Já no final da década de 1960, começou a destacar-se como letrista estabelecendo parcerias com Baden Powell, principalmente na voz de Elis Regina. Seu disco de estreia - Paulo César Pinheiro - foi lançado em 1974 e muitos outros trabalhos vieram depois.
A grande viagem é o caminho da vida, que nossos corpos feito navios vão singrando, levados pelo vento, sina ou designo. Se há desengano, medo, susto e segredo, há aventura, descoberta, prazer e alegria. O mar e o amar, viajar levado pela briza do amor....
por F@bio

domingo, 25 de março de 2012

O Captain! My Captain! - Walt Whitman

O Captain! My Captain!

O Captain! my Captain! our
fearful trip is done,
The ship has weather'd every
rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear,
the people all exulting,
While follow eyes the steady keel,
the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.


O Captain! my Captain! rise up
and hear the bells;
Rise up--for you the flag is flung--
for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon'd
wreaths--for you the shores a-
crowding,
For you they call, the swaying
mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.
My Captain does not answer, his
lips are pale and still,
My father does not feel my arm,
he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and
sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship
comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

Oh Capitão! Meu Capitão

Oh capitão! Meu capitão! Nossa
viagem cheia de medo está acabada;
O navio resistiu a cada tormenta,
o preço que pagamos é a vitória;
O porto está perto, os sinos eu ouço,
as pessoas todas exaltadas,
Enquanto olhos seguem a firme quilha,
o barco sinistro e ousado;
Mas oh coração! coração! coração!
Oh o sangue escorrendo vermelho,
Onde no deck meu capitão jaz,
Abatido frio e morto.

Oh capitão! Meu capitão! Levante
e ouça os sinos;
Levante, para você a bandeira flamula,
para você a corneta soa;
Para você ramalhetes e faixas adornam,
por você as praias estão enchendo;
Por você eles chamam,
a oscilante massa, suas faces ambiciosas mudando;
Aqui capitão! Querido Pai!
Esse braço envolvendo sua cabeça;
Será um sonho?
Você abatido frio e morto.

Meu capitão não responde,
seus lábios estão pálidos e imóveis;
Meu pai não sente meu braço,
ele não tem pulso nem vontade;
O navio está ancorado a salvo e saudável,
a viagem está terminada e feita;
De uma viagem cheia de temores, o navio vitorioso,
adentra com sua missão cumprida;
Exaltem, Oh praia, e toquem, Oh sinos!
Mas eu, com triste passadas,
Ando no deck em que meu capitão jaz,
Abatido frio e morto.

Tradução: Leonardo Meimes


Walt Whitman, nascido em Long Island, Estados Unidos, a 31 de Maio de 1819, foi um poeta, ensaísta, jornalista e humanista estadunidense. Considerado por muitos o maior poeta dos Estados Unidos, é visto como o primeiro poeta urbano. Ninguém como ele até então enalteceu, com versos soberbos, o regime dos Estados Unidos da América, além de ter iniciado a emancipação da literatura do seus país do costume de imitar os europeus.

Obtido de: http://www.miniweb.com.br/Literatura/Artigos/walt_whitman.html

Nestes versos ao feito de capitão libertador, já se vê a semente do tão forte sentimento de americanidade dos nascidos nos EUA. Versos que enaltecem quem deu a própria vida para alcançar a vitória. Lembram o hino nacional brasileiro "ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil!" A nau que alcançou o porto íntegra, já não pode mais contar com seu capitão. Venceu-se a tormenta e a nau é saudada no porto, mas a carga que chega a seu destino é pesada demais, pois nela se encontra o corpo defunto do seu capitão. Essa a beleza lírica de Whitman.
Por
F@bio

domingo, 4 de março de 2012

Cais - Sophia Andresen


"Para um nocturno mar partem navios,
Para um nocturno mar intenso e azul
Como um coração de medusa
Como um interior de anémona.
Naturalmente
Simplesmente
Sem destruição e sem poemas,
Para um nocturno mar roxo de peixes
Sem destruição e sem poemas
Assombrados por miríades de luzes
Para um nocturno mar vão os navios.
Vão
O seu rouco grito é de quem fica
No cais dividido e mutilado
E destruído entre poemas pasma."


Obtido de: http://www.maricell.com.br/sophiandresen/sophia13.htm


Poetisa e contista portuguesa, nasceu no Porto, de família aristocrática, onde viveu até aos dez anos, quando se mudou para Lisboa. De origem dinamarquesa por parte do pai, a sua educação decorreu num ambiente católico e culturalmente privilegiado que influenciou a sua personalidade. Frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, não tendo todavia chegado a concluí-lo.

Teve uma intervenção política empenhada, opondo-se ao regime salazarista (foi co-fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos) e também, após o 25 de Abril, como deputada. Presidiu ao Centro Nacional de Cultura e à Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Escritores.

O mar noturno de Sophia Andresen era o regime de Salazar, que entrevou Portugal. Ela foi a luz, com sua poesia delicada e seu ativismo decidido. Portugal, onde os assombrados pelo obscuro regime lançavam-se ao mar também turvo, no cais ficavam os gritos roucos dos que enfrentaram a medusa. Talvez divididos, certamente mutilados. Poemas destruidos.
Por
F@bio







sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cais - Narciso de Andrade

De: Narciso de Andrade

"1.

Com tanto navio para partir
minha saudade não sabe onde embarcar…

2.

A água comove a pedra
que parece fremir levemente.
Na oscilação breve das marolas
Há homens malogrando olhares
vagos, indecisos, alongados.

3.

(Completa ausência de tempo.
O calendário se desfaz
nas sombras, na brisa e na anatomia
recortada do estuário…).


Cambía todos os tons
esta angústia à flor da água.


4.

Não há gaivotas nem quaisquer
outros pássaros oceânicos.
Todavia, aquela espuma brilhante
sugere o roçar logo de algum.

5.

Vem do passado a romântica
sugestão de velas pandas.
Itinerários de descobertas,
roteiros de constelações,
ilhas remotas habitadas
por estranhos povos inocentes
--- pele morena, olhos ariscos,
porte severo, movimentos puros
de corpos ao vento e ao sol.


6.

Sirene arrepiando
a epiderme do meio-dia.


7.

Silenciosamente pesados
firmam-se nas horas os navios,
fortuitos donos do porto,
transitórios proprietários
de metros de alvenaria
que fazem maior a tristeza
da imensa nostalgia portuária.


Ah! receber todos os adeuses,
todos os abraços, todos os olhares
de ida e volta e permanecer
ancorado na paisagem imutável."



Narciso de Andrade jornalista, advogado e poeta, nascido em São Paulo, mas santista por adoção e adoração. Trabalhou no Diário e em A Tribuna, como jornalista e colaborador. Foi também da Light e Eletropaulo, nesta como advogado. Participou do grupo de poetas chamado "pesquisistas" que tudo investigava sobre literatura e poesia. Foi auto intitulado poetirmão de Roldão Mendes Rosa.
Em seu magnífico poema Cais sentimos vontade de embarcar na poesia de Narciso, ainda hoje inédita em livro. Seus versos são nostálgicos e de uma beleza lírica impar, especialmente revelada em: "Com tanto navio para partir /minha saudade não sabe onde embarcar…"
Por

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Narciso de Andrade, o poeta do vento e das maresias - Adelto Gonçalves

Adelto Gonçalves
...
Por esse tempo [anos 30], Santos destacava-se pelo movimento de seu porto, especialmente por causa das exportações de café. Os corretores atropelavam-se na Rua XV de Novembro com os canudos em que levavam as latas de amostras para a Bolsa de Café, onde em meio a telas de Benedicto Calixto acompanhavam o pregão e as cotações diárias.

O dinheiro escorria pelas ruas do centro antigo e fortunas eram construídas no dia-a-dia da cidade portuária. Seu comércio era intenso: a loja Ao Camiseiro, ao lado da redação de O Diário e quase em frente ao Café Paulista, vestia com gabardine, tropical inglês e outros tecidos finos os corretores de café, os despachantes aduaneiros e seus ajudantes, os fiscais da Alfândega, toda uma classe que ascendia socialmente com os negócios que se faziam em torno das mercadorias que entravam e saíam do porto.
...


Adelto Gonçalves (Brasil). Ensaísta. Autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (1999), Barcelona Brasileira (1999) e Bocage - O Perfil Perdido (2003). Contato: adelto@unisanta.br.

Deparei-me com esse ensaio de Adelto Gonçalves na internet (Revista Agulha) que analisa e traça a trajetória de Narciso de Andrade, jornalista e advogado, mas sobretudo poeta. Ia publicar o poema Cais de Narciso, mas achei o texto de Adelto de uma beleza impar e sonoridade poética que resolvi publicá-lo antes do poema. No trecho transcrito, Adelto tece, ou melhor, pinta um lindo quadro da cidade portuária na década de 30. Santos se destacava por ser o principal porto da América Latina no qual era embarcado o café, principal produto de exportação do Brasil que chegou a representar mais de 60% da nossa receita de exportação.
Por 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Na ponte de comando - M. Segall

Na ponte de comando
da nave que singra as vagas
como a noz que flutua na corrente
a vista comanda a linha do horizonte
avistada no infinito
pelo navegante de todas as eras
que no convés ou tombadilho
tal escultura de pedra
perscruta sem piscar
e migra do longe para o perto
para imergir do fora para o dentro
na hipnose do encontro do céu e mar.

A coragem preparada para o mergulho
na cachoeira do fim do mundo plano

como a flechada da gaivota para o fundo
do oceano turvo de um mundo curvo
sonhando sempre com mistérios e perigos
da descoberta de algum novo porto

Portal de horizontes mais profundos.

Maurício Segall é museólogo, economista e autor de duas peças de teatro premiadas: “A Formatura” e “O Coronel dos Coronéis”, editadas pelo Serviço Nacional de Teatro e pela Civilização Brasileira em 1967 e 1979, respectivamente. É também autor do livro de poemas “Máscaras ou Aprendiz de Feiticeiro”, de 2000. É ainda autor de diversos artigos sobre política e museologia.
Filho do artista Lasar Segall com a escritora e tradutora Jenny Klabin Segall, Mauricio nasceu em Berlim em 1926, onde viveu seus primeiros meses de vida. Em 1954 casou-se com a atriz Beatriz Segall, com quem tem três filhos. Em 1970, Maurício foi preso pelo regime militar brasileiro e condenado a dois anos de prisão em 1973 pelo Tribunal Militar de São Paulo.
Em 1967, ele e seu irmão, Oscar Klabin Segall, fundaram o Museu Lasar Segall. Durante trinta anos, de 1967 a 1997, inclusive nos anos passados na prisão, Maurício Segall esteve à frente da instituição, localizada em São Paulo.
Sua gestão definiu os rumos que até hoje constituem a estrutura e as atividades do museu, que cresceram a partir da incorporação à Fundação Pró-Memória, depois ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e finalmente ao Ibram/MinC
Obtido de: http://www.cultura.gov.br/brasilidade/agraciados-2010/mauricio-segall/

Mauricio Segall nos leva a navegar como quem, do tombadilho, vislumbra o horizonte. Mar-oceano com suas vagas a nos jogar de cá prá lá, embalando-nos qual a noz que vagueia levada pela corrente/torrente, cachoeira do fim do mundo, a desaguar nalgum lugar distante e profundo, um cais para nos amparar, aportar nosso barco-corpo, um porto novo, um ombro amigo.
Por
F@bio

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cais - Marien Calixte

CAIS
Gostaria
de sair contigo
pela beira do cais,
mãos dadas,
despreocupadamente,
apreciar a tarde,
as formas dos navios,
as cores do dia,
as palavras mais simples.
(Vez e outra
um silêncio).
Gostaria
de contigo repetir
os gestos,
chutar as pedras
e vê-las cair ao mar.
Gritar seu nome,
chamando
a atenção do vento.


Obtido de: http://www.poetas.capixabas.nom.br/Poetas/detail.asp?poeta=Marien%20Calixte

Marien Calixte, nascido no Rio de Janeiro-RJ, em 20/10/1936, capixaba por adoção, onde está radicado desde os dez anos de idade. É considerado o mais versátil multimídia do Estado. Jornalista, radialista, escritor, pintor, especialista em jazz e produtor cultural. Contista e poeta, nesse poema nos fala do amor no cais.
Cais lugar onde melhor se pode apreciar o cair da tarde, o balanço dos navios e o vôo agitado dos pássaros. A brisa que sopra envolve os amantes em seu passeio enamorado pela alameda do cais. O apito dos navios convida a sonhar com amores estrangeiros. O vaivem das ondas embala os corações e ao bater nas pedras, desperta os apaixonados, como um nome gritado da proa do navio que parte, levando a sua melhor parte, amor que vai, enquanto o sol se esvai e a noite cai. O cais é também dos apaixonados.
Por
F@bio