"A Europa precisou de tempo para desenvolver seu potencial comercial; mas, assim que o processo começou, ela criou as redes que fizeram do mundo um todo integrado. Com o fervor dos cruzados, os espanhóis e portugueses capitalizaram-se graças às rotas comerciais traçadas por Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães para criar a primeira rede comercial verdadeiramente global. Dominaram o Atlântico e o Pacífico, constituindo novos mercados e desenvolvendo os recursos recém-descobertos. Lubrificados pelo ouro e pela prata da América do Sul, os ibéricos comerciavam de Macau, a leste, até o Brasil, a oeste, enquanto o famoso galeão Manila ofereceu a primeira ligação sólida entre a Ásia e a América do Norte. No Ocidente é comum ver essa rede como evidência de uma supremacia comercial européia, mas os chineses e os guzerates ainda dominavam os oceanos do Oriente. Os europeus podiam até viajar para mais longe, mas as cargas da Ásia tinham um volume e um valor maiores"
Transcrito do livro "Cargas: como o comércio mudou o mundo. A história do transporte de mercadorias, de 618 até hoje". autor Greg Clydesdale, tradução de Dinah Azevedo, pag. 18, 1ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2012.
Greg Clydesdale é economista e professor de economia no Departamento de Gestão e Negócios Internacionais da Universidade de Massey, Nova Zelândia, possuindo doutorado sobre os determinantes da liderança industrial e do crescimento econômico, sendo também autor do livro "Oportunidade empresarial: o lugar certo na hora certa".
Em Cargas, o autor descreve o fascinante caminho da evolução das trocas comerciais e sua logística de transportes, indo desde as primeiras grandes rotas comerciais até o fenômeno mais recente da globalização. Ele narra também a trajetória e os feitos dos grandes comerciantes e a constituição dos principais conglomerados e corporações do capitalismo. Para quem milita no comércio exterior, é uma leitura fascinante e rica em informações sobre a evolução da produção, do comércio e dos transportes nos negócios internacionais, procurando ir além da visão eurocêntrica que tanto limita nossa compreensão da história da humanidade.
Por F@bio
A idéia é, como um navio cargueiro, recolher e reunir escritos da literatura que nos encantaram. Que tal navegar comigo, sugerir, criticar, interagir? Poste seu comentário e torne-se um amigo do Blog.
sábado, 11 de abril de 2015
domingo, 8 de março de 2015
O alegre porto - Ricardo Chaves
29 de novembro de 2011
Fotos: Léo Guerreiro, arquivo pessoal de Ricardo Chaves
No final dos anos 1950 e início dos 60, era um programão dar um passeio pelo porto da Capital. Pelo menos para um garoto que acompanhava a mãe em incursões ao centro da cidade, sempre na esperança de convencê-la a atravessar a Avenida Mauá e cruzar sob o majestoso pórtico central.
Dona Nilce era professora e todos os meses ia ao Tesouro do Estado (bela forma de chamar a Secretaria da Fazenda) para receber seus vencimentos (demorei para entender que esse termo significava salário). Quando saíamos, pela pequena porta ao lado da grande escadaria, era a hora do bote. O pedido/convite era atendido com amorosa resignação maternal e, sem muro nem burocracia, com o grande portão de ferro aberto a todos, ingressávamos de mãos dadas no cais. Munidos apenas da cautela necessária para evitar acidentes.
Uma paisagem única e dinâmica aguardava por nós. Navios enormes (percebi, mais tarde, que não eram tão grandes) eram carregados pela força dos estivadores e pelo incessante movimentos dos guindastes. Bonito de ver. Depois veio o golpe fatal: decretado como Área de Segurança Nacional e isolado pelo muro, o cais tornou-se inacessível.
Agora, dizem, a revitalização sai. Já não era sem tempo. Não será como aquele que conheci, mas acredito que possa voltar a ser, uma vez mais, um porto alegre e movimentado."
Ricardo Chaves é fotógrafo, jornalista e colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre (RS), publica o blog Almanaque Gaúcho com Lucas Vidal no ZH Blogs (http://wp.clicrbs.com.br/almanaquegaucho)
A crônica "O alegre porto", na qual Ricardo Chaves relata uma visita ao cais do porto na sua infância, me fez lembrar da minha adolescência em Niterói, em fins dos 60, início dos 70. Naquela época, vez por outra pegava a bicicleta e circulava pela cidade. Era ainda bastante provinciana e tranquila - não tinha a ponte Rio - Niterói. Uma vez fui até o bairro da Ponta da Areia, onde se situavam - e ainda se situam - alguns estaleiros. Pedalando entrei nas instalações do Estaleiro Mauá. Fique alguns instantes lá admirando o trabalho dos operários navais montando um navio no cais. Depois, simplesmente dei meia volta e retornei para continuar o passeio. As coisas funcionavam assim "sem burocracia, com o grande portão de ferro abertos a todos".
Por F@bio
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Salsugem - Al Berto
Salsugem
Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu....como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas esperando o mar
e a longitude do amor embarcado.....
....por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite...
....os dias lentíssimos....sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta.... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci.... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão....
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me
uma pérola no coração. Mas estou só, muito só,
não tenho a quem a deixar.)
.... um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta....
.... inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite
a felicidade
Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=265 © Luso-Poemas
Al Berto, pseudônimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares [1948-1997], foi poeta, pintor, editor e animador cultural. Português, natural de Sines, frequentou cursos de artes plásticas, em Portugal e em Bruxelas, onde se exilou em 1967. A partir de 1971 dedicou-se exclusivamente à literatura. A sua poesia retomou, de algum modo, a herança surrealista, fundindo o real e o imaginário.
Nas palavras de Rodrigo da Costa Araújo, Al Berto, "além da ausência de pontuação e outros recursos gráficos, como o uso do ponto final e da vírgula ou a letra maiúscula, ... explora e questiona o discurso enaltecedor, problematizando vários limites em figuras que sustentam dicotomias, tais como: dentro/fora, longe/perto (espelho), começo/fim (mar) e os limites entre tempo e passado (cenas) ou presente/passado."
O poeta, na sua Salsugem, se contrapõe ao discurso ufanista de Camões, poetisando a solidão dos que ficam. No abandono, acabam criando sua miragem melancólica dos oceanos e barcos crepusculares, amores que petrificaram corações deixando "um dardo de sangue .. no linho da noite".
Por F@bio
Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu....como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas esperando o mar
e a longitude do amor embarcado.....
....por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite...
....os dias lentíssimos....sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta.... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci.... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão....
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me
uma pérola no coração. Mas estou só, muito só,
não tenho a quem a deixar.)
.... um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta....
.... inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite
a felicidade
Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=265 © Luso-Poemas
Al Berto, pseudônimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares [1948-1997], foi poeta, pintor, editor e animador cultural. Português, natural de Sines, frequentou cursos de artes plásticas, em Portugal e em Bruxelas, onde se exilou em 1967. A partir de 1971 dedicou-se exclusivamente à literatura. A sua poesia retomou, de algum modo, a herança surrealista, fundindo o real e o imaginário.
Nas palavras de Rodrigo da Costa Araújo, Al Berto, "além da ausência de pontuação e outros recursos gráficos, como o uso do ponto final e da vírgula ou a letra maiúscula, ... explora e questiona o discurso enaltecedor, problematizando vários limites em figuras que sustentam dicotomias, tais como: dentro/fora, longe/perto (espelho), começo/fim (mar) e os limites entre tempo e passado (cenas) ou presente/passado."
O poeta, na sua Salsugem, se contrapõe ao discurso ufanista de Camões, poetisando a solidão dos que ficam. No abandono, acabam criando sua miragem melancólica dos oceanos e barcos crepusculares, amores que petrificaram corações deixando "um dardo de sangue .. no linho da noite".
Por F@bio
sábado, 29 de novembro de 2014
Um Eldorado - Machado de Assis
“A capital oferecia ainda aos recém-chegados um espetáculo magnífico. Vivia-se dos restos daquele deslumbramento e agitação, epopeia de ouro da cidade e do mundo, porque a impressão total é que o mundo inteiro era assim mesmo. Certo, não lhe esqueceste o nome, encilhamento, a grande quadra das empresas e companhias de toda espécie. Quem não viu aquilo não viu nada. Cascatas de ideias, de invenções, de concessões rolavam todos os dias, sonoras e vistosas para se fazerem contos de réis, centenas de contos, milhares, milhares de milhares, milhares de milhares de milhares de contos de réis. Todos os papéis, aliás ações, saíram frescos e eternos do prelo. Eram estradas de ferro, bancos, fábricas, minas, estaleiros, navegação, edificação, exportação, importação, ensaques, empréstimos, todas as uniões, todas as regiões, tudo o que esses nomes comportam e mais o que esqueceram. Tudo andava nas ruas e praças, com estatutos, organizadores e listas. Letras grandes enchiam as folhas públicas, os títulos sucediam-se, sem que se repetissem, raro morria, e só morria o que era frouxo, mas a princípio nada era frouxo. Cada ação trazia a vida intensa e liberal, alguma vez imortal, que se multiplicava daquela outra vida com que a alma acolhe as religiões novas. Nasciam as ações a preço alto, mais numerosas que as antigas crias da escravidão, e com dividendos infinitos.”
Em “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, pag.141, 4ª Edição (cotejada com a edição original da Livraria Garnier, Rio de Janeiro, 1904). São Paulo: Editora Martin Claret, 2001.
Joaquim Maria Machado de Assis, autodidata, foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Nasceu em 21.07.1839 no Rio de Janeiro, cidade onde viveu até sua morte em 29.09.1908. Mulato, pobre, de saúde frágil, órfão de pai e mãe, foi criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata. Primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, que adotou seu nome – Casa Machado de Assis. É considerado o maior escritor brasileiro. “Esaú e Jacó” é seu penúltimo romance. (Leia mais em: http://www.releituras.com/machadodeassis_bio.asp)
Tenho profunda admiração pela escrita sutil e irônica de Machado, de quem já li quase toda a obra. O livro que mais me marcou é, sem dúvida, Dom Casmurro. Mas todos os seus textos são de uma riqueza literária e poética sem igual e muito a frente de seu tempo. Para quem mora no Rio de Janeiro é uma delícia acompanhar a geografia da cidade, na qual são ambientados todos os seus romances, e perceber as enormes transformações sofridas. O romance Esaú e Jacó tem por protagonistas irmãos gêmeos que, embora idênticos no físico, são oponentes e concorrentes nos desejos e personalidades, uma clara referência à parábola bíblica. Machado ambienta o romance no período da passagem do Império para a República, e trata como pano de fundo os dilemas dos que estão no poder e dele não querem apear. O trecho transcrito, realista e melancólico, aborda a situação econômica vivida no período pós proclamação da república, com a política do encilhamento, situação muito parecida com a crise econômica mundial vivida em 2008, conhecida como "bolha imobiliária". Para os que desejam conhecer melhor esse genial escritor, sugiro ler sua biografia escrita por Daniel Piza, “Machado de Assis – Um Gênio Brasileiro”, com uma abordagem de vida e obra, critica, mas sem paixões.
Por F@bio
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
A turma, de Manoel de Barros
"A gente foi criado no ermo igual ser pedra.
Nossa voz tinha nível de fonte.
A gente passeava nas origens. Bernardo conversava pedrinhas
com as rãs de tarde.
Sebastião fez um martelo de pregar água
na parede.
A gente não sabia botar comportamento
nas palavras.
Para nós obedecer a desordem das falas
Infantis gerava mais poesia do que obedecer
as regras gramaticais.
Bernardo fez um ferro de engomar gelo.
Eu gostava das águas indormidas.
A gente queria encontrar a raiz das
palavras.
Vimos um afeto de aves no olhar de
Bernardo.
Logo vimos um sapo com olhar de árvore!
Ele queria mudar a Natureza?
Vimos depois um lagarto de olhos garços beijar as pernas da Manhã!
Ele queria mudar a Natureza?
Mas o que nós queríamos é que a nossa
palavra poemasse.”
Obtido de: http://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/aos-97-anos-manoel-de-barros-renasce-em-bernardo-e-com-poesia-inedita
Manoel de Barros bateu asas e avoou. Passarinho voou pras bandas do Pantanal, pra borboletear, encantar flores e frutos, gotejar pedrinhas, pregar lembranças, poemar palavras...
Voa passarinho Manoeldebarros, vai cantar suas poesias, inventar bichos e inspirar a vida!!
Por F@bio
Nossa voz tinha nível de fonte.
A gente passeava nas origens. Bernardo conversava pedrinhas
com as rãs de tarde.
Sebastião fez um martelo de pregar água
na parede.
A gente não sabia botar comportamento
nas palavras.
Para nós obedecer a desordem das falas
Infantis gerava mais poesia do que obedecer
as regras gramaticais.
Bernardo fez um ferro de engomar gelo.
Eu gostava das águas indormidas.
A gente queria encontrar a raiz das
palavras.
Vimos um afeto de aves no olhar de
Bernardo.
Logo vimos um sapo com olhar de árvore!
Ele queria mudar a Natureza?
Vimos depois um lagarto de olhos garços beijar as pernas da Manhã!
Ele queria mudar a Natureza?
Mas o que nós queríamos é que a nossa
palavra poemasse.”
Obtido de: http://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/aos-97-anos-manoel-de-barros-renasce-em-bernardo-e-com-poesia-inedita
Manoel de Barros bateu asas e avoou. Passarinho voou pras bandas do Pantanal, pra borboletear, encantar flores e frutos, gotejar pedrinhas, pregar lembranças, poemar palavras...
Voa passarinho Manoeldebarros, vai cantar suas poesias, inventar bichos e inspirar a vida!!
Por F@bio
domingo, 26 de outubro de 2014
Ópera do Malandro - Chico Buarque
Ópera
(JOÃO ALEGRE)
Telegrama
Do Alabama
Pro senhor
Max Overseas
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
Do Alabama
Pro senhor
Max Overseas
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
(TERESINHA)
Chegou a confirmação
Da United coisa e tal
Que nos passa a concessão
Para o náilon tropical
Da United coisa e tal
Que nos passa a concessão
Para o náilon tropical
(MAX)
Então nós vamos montar
Em São Paulo um fabricão
Em São Paulo um fabricão
(TERESINHA)
Depois vamos exportar
Fio de náilon pro Japão
Fio de náilon pro Japão
(MAX)
Sei que o náilon tem valor
Mas começa a me enjoar
Tive idéia bem melhor
Nós vamos ramificar
Mas começa a me enjoar
Tive idéia bem melhor
Nós vamos ramificar
(TERESINHA)
Já ramifiquei,ha ha
Fiz acordo com a Shell
Coca-Cola, RCA
E vai ser sopa no mel
Fiz acordo com a Shell
Coca-Cola, RCA
E vai ser sopa no mel
(CORO)
Que beleza
Que riqueza
Tá chovendo
Da matriz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
Que riqueza
Tá chovendo
Da matriz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
(MAX)
Que tal juntarmos
Esses capitais
Abrindo um banco
Em Minas Gerais
Esses capitais
Abrindo um banco
Em Minas Gerais
(TERESINHA)
Que brilhante idéia, meu amor
Que plano original
Com fundos no exterior
Você fundar
Um banco nacional
Que plano original
Com fundos no exterior
Você fundar
Um banco nacional
(CAPANGAS DE MAX)
E eu que já fui
Um pobre marginal
Sem documento
E sem moral
Hei de ser um bom profissional
Vou ser quase um doutor
Contínuo da senhora
E do senhor
Bancário ou contador
Um pobre marginal
Sem documento
E sem moral
Hei de ser um bom profissional
Vou ser quase um doutor
Contínuo da senhora
E do senhor
Bancário ou contador
(CORO)
Que sucesso
O progresso
Corta o mal
Pela raiz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
O progresso
Corta o mal
Pela raiz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
(CHAVES)
Irmão
Nem começar eu sei
Receio te inibir
Nem começar eu sei
Receio te inibir
(MAX)
Tua vontade é lei
É falar
É mandar
É exigir
É falar
É mandar
É exigir
(CHAVES)
É que
Num mundo tão cruel
Cheio de inveja e fel
Não lhe fará mal
Ter à mão
Proteção
Policial
Quer os meus préstimos?
Num mundo tão cruel
Cheio de inveja e fel
Não lhe fará mal
Ter à mão
Proteção
Policial
Quer os meus préstimos?
(MAX)
Eu acho ótimo
(BARRABÁS)
Serve um acólito?
(MAX)
Também vou te empregar
(LÚCIA)
Eu não
Tenho com quem deixar
Meu filho que já vem
Tenho com quem deixar
Meu filho que já vem
(MAX)
Barrabás é um par
Exemplar
Quer casar
Exemplar
Quer casar
(BARRABÁS)
E adoro neném
(CORO)
Maravilha
Que família
Dois pombinhos
E um petiz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
Que família
Dois pombinhos
E um petiz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
(VITÓRIA)
Só tenho um único
Breve reparo
A tão preclaro
Genro viril
É o esquecimento
Do sacramento
Afinal
Se casou
Só no civil
Oh oh oh
Oh oh oh
Só no civil
Oh oh oh
Oh oh oh
Só no civil
Breve reparo
A tão preclaro
Genro viril
É o esquecimento
Do sacramento
Afinal
Se casou
Só no civil
Oh oh oh
Oh oh oh
Só no civil
Oh oh oh
Oh oh oh
Só no civil
(MAX)
Mas nesse ínterim
Mudei de crença
Já peço a benção
No santo altar
Mudei de crença
Já peço a benção
No santo altar
(VITÓRIA)
Que maravilha
Não perco a filha
E um varão
Bonitão
Eu vou ganhar
Ah ah ah
Ah ah ah
Eu vou ganhar
Ah ah ah
Ah ah ah
Eu vou ganhar
Não perco a filha
E um varão
Bonitão
Eu vou ganhar
Ah ah ah
Ah ah ah
Eu vou ganhar
Ah ah ah
Ah ah ah
Eu vou ganhar
(DURAN)
Minha filha eu desejo pedir teu
perdão
(TERESINHA)
Oh, meu pai, isso é bom demais!
Finalmente! Até que enfim!
Finalmente! Até que enfim!
(DURAN)
Não sei como fui pra você tão
durão
Tão mandão, tão sem coração
Tão malvado assim
Tão mandão, tão sem coração
Tão malvado assim
(MAX)
Meu sogro, o senhor não sabe
Quanta alegria
Me dá, ao dizer que já se juntou
Aos nossos
Quanta alegria
Me dá, ao dizer que já se juntou
Aos nossos
(DURAN)
Só Deus sabe há quanto tempo
Eu tanto queria
Poder apertar esses ossos
Eu tanto queria
Poder apertar esses ossos
(CORO)
Que euforia
Quem diria
Como os grandes
São gentis
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
Quem diria
Como os grandes
São gentis
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
(DURAN)
Não quero ser
Nas suas costas um fardo
Porém, talvez
Eu necessite um resguardo
Nas suas costas um fardo
Porém, talvez
Eu necessite um resguardo
(MAX)
Tua instituição
Tão tradicional
Vai ter um padrão
Moderno
Cristão e ocidental
Tão tradicional
Vai ter um padrão
Moderno
Cristão e ocidental
(FUNCIONÁRIAS DE DURAN)
Vamos participar
Dessa evolução
Vamos todas entrar
Na linha de produção
Vamos abandonar
O sexo artesanal
Vamos todas amar
Em escala industrial
Dessa evolução
Vamos todas entrar
Na linha de produção
Vamos abandonar
O sexo artesanal
Vamos todas amar
Em escala industrial
(TODOS)
O sol nasceu
No mar de Copacabana
Pra quem viveu
Só de café e banana
Tem gilete, Kibon
Lanchonete, Neon
Petróleo
Cinemascope, sapólio
Ban-lon
Shampoo, tevê
Cigarros longos e finos
Blindex fumê
Já tem Napalm e Kolinos
Tem cassete e ray-ban
Camionete e sedan
Que sonho
Corcel, Brasília, plutônio
Shazam
Que orgia
Que magia
Reina a paz
No meu país
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
No mar de Copacabana
Pra quem viveu
Só de café e banana
Tem gilete, Kibon
Lanchonete, Neon
Petróleo
Cinemascope, sapólio
Ban-lon
Shampoo, tevê
Cigarros longos e finos
Blindex fumê
Já tem Napalm e Kolinos
Tem cassete e ray-ban
Camionete e sedan
Que sonho
Corcel, Brasília, plutônio
Shazam
Que orgia
Que magia
Reina a paz
No meu país
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
“Ópera do Malandro”, de 1978, é um musical de Chico
Buarque de Holanda. Conta-se que ele teve a ideia de escrever uma adaptação
para os clássicos “Ópera dos Mendigos”, de John Gay, e “A Ópera dos Três
Vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, durante conversa com Ruy Guerra, cineasta e parceiro
de Chico no musical “Calabar”.
A Ópera do Malandro tem um texto bastante atual. O cafetão
Duran, que se passa por um grande comerciante, e sua mulher Vitória, também
cafetina, têm a expectativa de casar a filha Teresinha com um homem importante
na sociedade, mas ela se envolve com Max Overseas, traficante que vive de
golpes e mutretas com o chefe de polícia Chaves. Os outros personagens são Lucia,
filha de Chaves, que também foi seduzida por Max, as prostitutas, a travesti
Geni, os capangas de Max e o narrador João.
A peça se passa na década de 1940, tendo como pano de
fundo a legalidade do jogo, a prostituição e o contrabando, questões que continuam
a fazer parte da cena cotidiana da atualidade.
Tive a oportunidade de assistir duas montagens da peça, a
primeira da dupla Charles Muller e Claudio Botelho, com Mauro Mendonça, Lucinha
Lins, Soraya Ranvele, Alexandre Schumacker e outros. A segunda e mais recente
de João Falcão com um elenco quase que exclusivamente masculino, acaba tendo um
viés mais cômico. Chama a atenção a genialidade de Chico Buarque, autor de
todas as músicas, que se harmonizam e valorizam o texto, inspirado em duas
obras de grande reconhecimento. Quem ainda não viu, não deve perder.
Por Fabio.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Quem Fala? - Fabio M. Faria
"Quem fala?
de Fabio Martins Faria
(...)
Naquela época, o país estava em plena crise do petróleo. Não
havia divisas suficientes para pagar os compromissos internacionais. A saída
era realizar um controle diário das exportações e importações para saber como evoluía
o saldo de dólares.
Certa noite, um novo funcionário estava sozinho na seção,
conferindo umas tabelas, no que era reconhecido como um craque. No meio desse serão, tocou o telefone.
- Alô, boa noite! - atendeu meio sonado o zeloso funcionário.
- É da estatística? - indagou alguém com uma voz imperial.
- Sim, é do setor de estatística – respondeu o funcionário.
- Eu quero saber da balança. Quero aqui agora na minha sala,
traz logo!
- Mas eu não sei onde está – retrucou o empregado com sua sinceridade
habitual.
- Como? - grunhiu a voz do outro lado
- Não faço ideia onde está.
- Pois então se vira e traga logo aqui pra mim. É urgente! -
ordenou com voz colérica.
- Mas tô sozinho aqui e não sei onde está – respondeu com
toda calma o aplicado funcionário.
- Você sabe com quem está falando?
Pelo tom ameaçador, percebeu logo que era o “poderoso
chefão”, mas como não tinha contato com ele, resolveu arriscar.
- E o senhor sabe quem está falando?
- Não, seu imbecil, quem está falando aí? – berrou o chefão
irado.
- Ainda bem...
- Tum...Tum...Tum..."
Transcrito do livro "Casos e Acasos do Comércio Exterior", São Paulo: Aduaneiras, 2014
Recentemente lançamos o livro durante o Encontro Nacional de Comércio Exterior - ENAEX 2014, realizado pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), nos dias 7 e 8 de agosto, no Rio de Janeiro. Sou organizador do livro, juntamente com o Professor Jovelino Pires. Somos 6 autores: Arthur Pimentel, Edson Lupatini, Eduardo Coelho, Fabio M. Faria, Jovelino Pires e Ricardo Dobbin. O livro tem 32 crônicas que relatam casos pitorescos vividos pelos autores nas suas militâncias no comércio internacional. As criativas ilustrações são de Renato Pires. Abrilhanta o livro, o emocionante prefácio de Ricardo Cravo Albin. Participar dessa iniciativa foi muito divertido e estimulante.
Por F@bio
sábado, 14 de junho de 2014
O Conto da Ilha Desconhecida - José Saramago
"(...)
Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do rei era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse.
(...)"
Transcrito de O Conto da Ilha Desconhecida de José Samarago, foi lançado em 1997 e está disponível em http://contobrasileiro.com.br/
José Saramago, um dos maiores nomes da literatura portuguesa, jornalista, escritor e poeta, nascido em 1922 e falecido em 2010. Ganhador dos Prêmios Nobel e Camões, tem vasta obra de contos e romances, incluindo Ensaio sobre a Cegueira, adaptado para o cinema. Deixou como legado, além de sua obra, a Fundação José Saramago com o objetivo de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, situada na Casa dos Bicos, em Lisboa - Portugal.
Saramago nos presenteia com um texto, que embora curto, é extremamente denso de conteúdo e imagens. Nos faz questionar sobre nossa acomodação com os papéis sociais e o medo do desconhecido. Nos traz uma escrita que rompe com as regras da gramática, mas não com a musicalidade do texto e a magia das palavras. O conto é divertido e filosófico, no sentido de que nos faz pensar sobre a eterna busca do homem sobre si mesmo e o sentido da vida.
No conto, um homem simples demanda ao Rei um barco para navegar até uma ilha desconhecida, que acredita existir, mas que só de fato saberá se o é, quando lá chegar e torna-la então conhecida.
O sonho e a imaginação tornam a aventura possível. A ficção nos permite viajar até lugares inimagináveis, sem necessariamente sair de onde nos encontramos. Essa é a magia dos livros a nos transportar a lugares possíveis e impossíveis. Para sonhar, basta existir!
Por F@bio
Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do rei era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse.
(...)"
Transcrito de O Conto da Ilha Desconhecida de José Samarago, foi lançado em 1997 e está disponível em http://contobrasileiro.com.br/
José Saramago, um dos maiores nomes da literatura portuguesa, jornalista, escritor e poeta, nascido em 1922 e falecido em 2010. Ganhador dos Prêmios Nobel e Camões, tem vasta obra de contos e romances, incluindo Ensaio sobre a Cegueira, adaptado para o cinema. Deixou como legado, além de sua obra, a Fundação José Saramago com o objetivo de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, situada na Casa dos Bicos, em Lisboa - Portugal.
Saramago nos presenteia com um texto, que embora curto, é extremamente denso de conteúdo e imagens. Nos faz questionar sobre nossa acomodação com os papéis sociais e o medo do desconhecido. Nos traz uma escrita que rompe com as regras da gramática, mas não com a musicalidade do texto e a magia das palavras. O conto é divertido e filosófico, no sentido de que nos faz pensar sobre a eterna busca do homem sobre si mesmo e o sentido da vida.
No conto, um homem simples demanda ao Rei um barco para navegar até uma ilha desconhecida, que acredita existir, mas que só de fato saberá se o é, quando lá chegar e torna-la então conhecida.
O sonho e a imaginação tornam a aventura possível. A ficção nos permite viajar até lugares inimagináveis, sem necessariamente sair de onde nos encontramos. Essa é a magia dos livros a nos transportar a lugares possíveis e impossíveis. Para sonhar, basta existir!
Por F@bio
domingo, 8 de junho de 2014
Cais - Conceição Rios
"Quando o mar veio esbarrar na vida,
pouca gente ainda estava no cais.
Não havia mais por quem chorar os sais.
A espuma virou névoa.
A brisa congelou a relva.
O som do navio fantasma
fazia as casas balançarem.
Não era o balanço do mar.
Não era o vai-e-vem de amar.
Não era onde se queria estar.
Era o único lugar."
Transcrito do livro "Confluência", de Conceição Rios, pág. 25. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2009.
Conceição Rios é carioca, poeta, pedagoga pela PUC-RJ, onde trabalhou com arte-educação em permanente contato com o teatro, a música, o cinema, a publicidade, a televisão e até o circo (voador).
O cais é o porto seguro, onde a vida resiste aos tropeços, temores e terrores. A nau da vida faz sua travessia por águas calmas e tormentosas, mas sempre há um cais para nos abrigar do vai-e-vem cotidiano, dos caminhos interrompidos, dos fracassos sofridos ou dos amores partidos.
Por F@bio
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Escritos de Vitória - Porto - Jorge Alencar
Apresentação do Livro Escritos de Vitória – PORTO
O Porto sempre esteve presente na minha vida. Especialmente quando adolescente e morador do centro de Vitória. Morava na Beira-Mar e, muitas vezes, percorria os olhos em direção ao Porto. Algumas coisas me intrigavam, a vida dos embarcadiços, as estórias de contrabando, as mensagens escritas nas pedras, os marinheiros do Bar Scandinávia, as prostitutas. Esta é a imagem que conservo do Porto de Vitória.
O apito dos navios ressoando no canal de Vitória... Os navios de guerra... Como gostava de ver os navios de guerra! A formação dos marinheiros, todos de branco no convés. O embarque e desembarque de café, a facilidade com que aqueles homens levantavam e carregavam os sacos de juta impressos com um ramo de café verde. Os novos guindastes, lembro-me bem, acompanhei a montagem deles da escadaria do Palácio.
Uma certa noite, desci do apartamento e deitei-me sobre a balsa que servia para atracar as embarcações da praticagem. Deitado de bruços, olhando rente ao mar, o reflexo das luzes da Beira-Mar, dos prédios, dos navios, dos portos ficou para sempre registrado na minha memória. Esta parte da cidade, para mim, era um grande mistério. Nem tudo que via entendia, mas acreditava que fazia parte da vida do Porto as idas e vindas de diferentes navios e nacionalidades. Houve uma época que eu colecionava maços de cigarros vazios. Só próximo ao Porto se conseguia uma variedade maior de marcas. Às vezes fico imaginando Vitória sem o Porto ou o Porto sem Vitória. O que seria disso? Imagine um elevado ao lado do Porto. O cais virando mão e contramão. Os navios fora do Porto. De repente, quem sabe, um aterro unindo Vitória a Vila Velha. Nossa Senhora!... Isto é delírio.
As ilustrações, os contos, as crônicas, os poemas, presentes nos Escritos de Vitória no futuro poderão ser dos únicos registros do sentimento que o nosso Porto – parte da nossa Memória – inspira em nosso artífices do traço e da palavra. Vale a pena lê-los e entendê-los como cada um vê o seu Porto e como cada um o interpreta.
Fonte: Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória, ES – 1994. Prefeito Municipal, Paulo Hartung. Autor: Jorge Alencar – Secretário Municipal de Cultura e Esporte de Vitória - 1994. Ilustração: Atílio Colnago - Ilustrou nesta publicação a crônica "Kallima" da autora Bernadette Lyra
Obtido de: http://www.morrodomoreno.com.br/materias/porto-escritos-de-vitoria.html
Não li o livro, ainda, mas achei muito legal esse texto de apresentação do Jorge Alencar, muito ilustrativo do porto de Vitória. Lembro que, certa vez, fui gravar uma entrevista para o "Bom dia ES". Optaram por uma externa bem no local onde o autor ficava deitado admirando a movimentação dos navios no porto de Vitória. Nesse dia, por sorte, enquanto gravava a entrevista, no canal ao fundo, um navio manobrava. Era o pano de fundo ideal para a entrevista na qual falava sobre o comércio exterior brasileiro, em geral, e capixaba, em particular.
Por F@bio
O Porto sempre esteve presente na minha vida. Especialmente quando adolescente e morador do centro de Vitória. Morava na Beira-Mar e, muitas vezes, percorria os olhos em direção ao Porto. Algumas coisas me intrigavam, a vida dos embarcadiços, as estórias de contrabando, as mensagens escritas nas pedras, os marinheiros do Bar Scandinávia, as prostitutas. Esta é a imagem que conservo do Porto de Vitória.
O apito dos navios ressoando no canal de Vitória... Os navios de guerra... Como gostava de ver os navios de guerra! A formação dos marinheiros, todos de branco no convés. O embarque e desembarque de café, a facilidade com que aqueles homens levantavam e carregavam os sacos de juta impressos com um ramo de café verde. Os novos guindastes, lembro-me bem, acompanhei a montagem deles da escadaria do Palácio.
Uma certa noite, desci do apartamento e deitei-me sobre a balsa que servia para atracar as embarcações da praticagem. Deitado de bruços, olhando rente ao mar, o reflexo das luzes da Beira-Mar, dos prédios, dos navios, dos portos ficou para sempre registrado na minha memória. Esta parte da cidade, para mim, era um grande mistério. Nem tudo que via entendia, mas acreditava que fazia parte da vida do Porto as idas e vindas de diferentes navios e nacionalidades. Houve uma época que eu colecionava maços de cigarros vazios. Só próximo ao Porto se conseguia uma variedade maior de marcas. Às vezes fico imaginando Vitória sem o Porto ou o Porto sem Vitória. O que seria disso? Imagine um elevado ao lado do Porto. O cais virando mão e contramão. Os navios fora do Porto. De repente, quem sabe, um aterro unindo Vitória a Vila Velha. Nossa Senhora!... Isto é delírio.
As ilustrações, os contos, as crônicas, os poemas, presentes nos Escritos de Vitória no futuro poderão ser dos únicos registros do sentimento que o nosso Porto – parte da nossa Memória – inspira em nosso artífices do traço e da palavra. Vale a pena lê-los e entendê-los como cada um vê o seu Porto e como cada um o interpreta.
Fonte: Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória, ES – 1994. Prefeito Municipal, Paulo Hartung. Autor: Jorge Alencar – Secretário Municipal de Cultura e Esporte de Vitória - 1994. Ilustração: Atílio Colnago - Ilustrou nesta publicação a crônica "Kallima" da autora Bernadette Lyra
Obtido de: http://www.morrodomoreno.com.br/materias/porto-escritos-de-vitoria.html
Não li o livro, ainda, mas achei muito legal esse texto de apresentação do Jorge Alencar, muito ilustrativo do porto de Vitória. Lembro que, certa vez, fui gravar uma entrevista para o "Bom dia ES". Optaram por uma externa bem no local onde o autor ficava deitado admirando a movimentação dos navios no porto de Vitória. Nesse dia, por sorte, enquanto gravava a entrevista, no canal ao fundo, um navio manobrava. Era o pano de fundo ideal para a entrevista na qual falava sobre o comércio exterior brasileiro, em geral, e capixaba, em particular.
Por F@bio
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