"É noite escura e o cais está deserto. Ivo ergue a gola do sobretudo. Sente muito frio, e o silêncio enorme e hostil enche-o de um vago medo. Vai viajar. Mas é estranho… Tudo parece diferente do que ele sempre imaginara. O grande transatlântico se desenha sem contornos certos contra o céu de fuligem. Não se vê um só vulto humano no cais. Adivinha-se, entretanto, na treva, a presença rígida e gelada dos guindastes..."
Obtido de http://www.releituras.com/everissimo_navio.asp. Texto extraído do livro "Contos" (série paradidática), Ed. Globo - Porto Alegre - 1978, pág. 13.
Érico Veríssimo, escritor, nascido em Cruz Alta (RS), em 1905, era descendente, tanto pelo lado paterno como pelo materno, de estancieiros tradicionais. Foi um dos escritores brasileiros mais populares do século XX. Morreu em Porto Alegre em 1975.
A obra literária de Veríssimo é extremamente rica, seja regional como O Tempo e o Vento, uma saga dos pampas, seja universal, como Incidente em Antares. Em O Navio das Sombras, Érico constrói uma metáfora sombria sobre a morte de um suicida. A morte está atracada no cais, na forma de um transatlântico, imerso na escuridão da noite sombria e gelada. Entre a vida e a morte, o jovem moribundo ouve o chamado da mulher amada e vislumbra a luz, mas as trevas já tinham dominado seu corpo. Eh vida breve...
Por F@bio
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