"Ferradas nascera em torno de um armazém de cacau... Ao lado do armazém foram surgindo casas, em pouco tempo se abriu uma rua de lama, dois ou três becos a cortaram...Tropeiros, que vinham conduzindo tropa de cacau seco das fazendas mais distantes, pernoitavam..."
Transcrito de "Terras do sem fim" de Jorge Amado, págs. 140 e 141, 71ª edição. Romance. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Jorge Amado, inspirado pela saga de seu pai, que emigrou da Paraíba atraído pelas riquezas do cacau, situa seu romance na região sul-bahiana na época do desbravamento das matas para plantio das roças de cacau, no início do Sec. XX. A epopéia é levada por homens que com suor, machados, facões, foices, enxadas, armas, jagunços, tocaias, traições e caxixes, plantam as lavouras de cacau que fizeram a riqueza daquela região, antes do advento da vassoura-de-bruxa, praga de arrazou as plantações no final do século. A força dessa cultura foi tão grande que alguns chegam a denominar "o ciclo do cacau", junto com outros ciclos econômicos brasileiros, como: ouro, borracha, café, açúcar etc. O romance, que narra a contenda entre Horácio da Silveira e os Badarós, termina com a vitória do primeiro e tem sequência em "São Jorge dos Ilhéus".
O trecho transcrito remete às minhas origens. Nasci no hoje município de Varre-Sai, no noroeste do Estado do Rio de Janeiro. A cidade foi constituída à semelhança de Ferradas, em torno de um rancho onde pernoitavam tropeiros de café com suas mulas. Dizem que a proprietária do local colocou uma placa para alertar os tropeiros que deveriam limpar a sujeira deixada por seus animais antes de partir: "varre e sai". Daí a alcunha. As tropas, vindas de fazendas distantes, levavam os grãos de café até armazéns de empresas comerciais e dessas para o porto de Vitória ou do Rio de Janeiro e de lá embarcados para o exterior. Meu pai contava muitas histórias de como as matas foram desbravadas para o plantio de cafezais, como na fazenda em que nasci. Mas, não me lembro de referências a jagunços e caxixes.
Por F@bio
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