De: Herbert Vianna
"Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu estou na lanterna dos afogados
Eu estou te esperando
Vê se não vai demorar
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar"
Letra obtida em http://vagalume.uol.com.br/paralamas-do-sucesso/lanterna-dos-afogados.html
Herbert provavelmente se inspirou no livro Jubiabá de Jorge Amado ("Jubiabá", romance. São Paulo, ed Martins, 27a. Ed., 1971) onde encontramos nas pags. 77 e 85 o seguinte:
"Certa noite no cais os homens pararam de repente o trabalho e correram para a borda onde o mar batia. Havia uma Lua clara e estrelas tão brilhantes que nem se via a luz da lâmpada de um botequim que se chamava 'Lanterna dos Afogados'...
Quando seu Antônio comprou o 'Lanterna dos Afogados' à viuva de um marinheiro que a montara há muitos anos, ela já tinha esse nome e, em cima da porta ostentava aquela tabuleta mal pintada, na qual uma sereia salva um afogado. O marinheiro que montara o botequim desembarcara um dia de um cargueiro e ancorara ali, naquela velha sala negra do sobrado.
Amara uma mulata escura que fazia arroz-doce para os frequeses e fornecia boia aos trabalhadores do cais do porto.
Porque chamara ao botequim de 'Lanterna dos Afogados' ninguém sabia. Sabiam porém que ele naufragara três vezes e que correra o mundo todo..."
Lanterna metafórica de um Herbert genial compositor e músico. Cais do porto dos desesperados e afogados na solidão, no desamor, na vida sem rumo. O botequim é o porto dos solitários, lugar para afogar as mágoas, ponto de encontro, cais. Mas há alguém que pode ajudar, que te espera no cais, seguro porto, ombro amigo, amor sincero. Vida curta, viajem longa, noite comprida, luz no túnel, farol pra quem precisa chegar, alguém pra te escutar, apoiar. Mas ninguém te ouve, dá vontade de chorar, sozinho no mundo, qual cargueiro em pleno mar. Mas a luz tênue do farol aponta o caminho, porisso não vá demorar, pois alguém está te esperando, iluminando o caminho, candeiro na noite escura, estrela guia. Lanterna. Viva Herbert Paralama Vianna!
por F@bio
A idéia é, como um navio cargueiro, recolher e reunir escritos da literatura que nos encantaram. Que tal navegar comigo, sugerir, criticar, interagir? Poste seu comentário e torne-se um amigo do Blog.
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
Cais do porto - Capiba
"Cais do porto,
Eu estou sempre aqui
Seja noite estrelada ou não
Cais do porto,
Quero ver se encontro meu bem
Que daqui certo dia partiu
Não sei se sozinho ou com mais alguém
Cais do porto,
Tenha pena de mim
Já é dia, nem vestígio sequer
Não será, cais do porto, aquela luzinha?
Que lá longe apaga e acende
Fazendo um sinal, quem sabe, pra mim."
Letra obtida do site www.muitamusicacom.br e foto da contra-capa do disco "Viva Capiba" disponível no site http://www.guiapernambuco.com.br/persona/capiba.shtml
Eu estou sempre aqui
Seja noite estrelada ou não
Cais do porto,
Quero ver se encontro meu bem
Que daqui certo dia partiu
Não sei se sozinho ou com mais alguém
Cais do porto,
Tenha pena de mim
Já é dia, nem vestígio sequer
Não será, cais do porto, aquela luzinha?
Que lá longe apaga e acende
Fazendo um sinal, quem sabe, pra mim."
Letra obtida do site www.muitamusicacom.br e foto da contra-capa do disco "Viva Capiba" disponível no site http://www.guiapernambuco.com.br/persona/capiba.shtml
Capiba ou Lourenço da Fonseca Barbosa, um grande compositor pernambucando, muita musica, muitos frevos para alegrar nossas vidas, encantar nossos corações e carnavais!
O cais é frequentemente cantado em versos: saudade, um amor que se foi, um barco que partiu, a luz tênue, cascos e bandeiras, estivadores, marujos, malandros, prostitutas.
O cais, o porto, seguro?
Docas escuras, sujas, guindastes, pó, poeira, fuligem.
Lugar sinistro, noir, falcão maltês, vapor e vapores, fumo, fumaça...
Ponto de saída e de chegada,
Âncora de vidas par-tidas!
Âncora de vidas par-tidas!
por F@bio
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Rio das Flores - Miguel Sousa Tavares
"-Nós não vamos fazer negócios com Hitler. Acabaram-se as exportações para a Alemanha. Vamos fazer negócio com as nações que entrarem em guerra contra a Alemanha e com as que ficarem de fora. Com a Inglaterra e a França, seguramente.
- Com Portugal...
- Não sei onde é que Portugal ficará: se com a Inglaterra, se com Hitler, se em lado nenhum. Mas se ficar com os nazis, também não faremos negócios com Portugal.
Aguinaldo olhou-o, impressionado: as coisas iam mudar. Será que para melhor?
- Bem, então, doutor, temos mesmo que pensar, não é?
- O que precisará uma Europa em guerra, Aguinaldo?
- Armas...
- Sim, armas, claro. Mas nem o Brasil as produz nem nós somos traficantes de armas. Esqueça tudo o que não é produzido aqui ou que não é essencial. O café, o açúcar, as frutas tropicais, nada disso é essencial. Se, de facto, houver guerra, como eu creio, a devastação na Europa vai ser tamanha, que as pessoas vão lutar desesperadamente apenas para viver com o essencial. E o que será então o essencial? Remédios e aparelhos clínicos para tratar os feridos, mas isso o Brasil não produz. Navios, comboios etc., é igual. O que resta?
Aguinaldo coçou a cabeça preocupado: alguma coisa tinha de restar ou a Atlântica desapareceria nos escombros da anunciada guerra européia.
- Resta comida, senhor Aguinaldo!
- Sim, a comida. Imagine a Alemanha, a França, a Inglaterra, todos envolvidos na guerra, com todos os homens mobilizados e, se calhar, também as mulheres. Quem vai tratar da agricultura?
Aguinaldo assentiu, impressionado com a inteligência do patrão.
- Comida, é claro! Como não pensei nisso!
- O Brasil não produz cereais como o trigo, o arroz, o milho, em quantidades suficientes e preços concorrenciais para podermos exportar. Mas produz outras coisas.
- Produz outras coisas... - Aguinaldo esforçava-se para se lembrar de alguma, antes que Diogo o dissesse, mas não conseguiu.
- Feijão e carne, senhor Aguinaldo! Feijão e carne.
- Feijão e carne! Caramba, feijão e carne!
O rosto de Aguinaldo Baptista brilhava agora de felicidade. Feijão e carne, quem diria? Bendita guerra européia que aí vinha.
...
Terminado o pequeno-almoço, descia até à porta do hotel, onde, às oito e trinta em ponto, 'seu' Aguinaldo vinha apanhá-lo para levar aos escritórios da Atlântica no centro, no Chevrolet azul-escuro que ele comprara para o serviço da empresa e que fizera Aguinaldo Baptista acreditar definitivamente que, agora sim, agora a firma estava em fase de investimento e expansão. E estava: Diogo pusera ordem e estratégia em todos os setores do negócio - fornecedores, armazenamento de produtos, fretação de carga em navios, expedição alfandegária, contratos e pagamentos dos clientes no destino, relações com bancos, escrituração e contabilidade. Cada empregado tinha agora tarefas claras estabelecidas e sabia exactamente o que fazer e que resultados se esperavam de si. O negócio de exportação de 'gado de corte', como diziam os brasileiros, era agora a grande aposta de Diogo. Para isso, era absolutamente indispensável que os fornecedores não falhassem - nem no prazo, nem na quantidade, nem no preço, nem na qualidade."
Transcrito de "Rio das Flores" (pág. 342 a 344 e 394 a 395). Romance. Autor: Miguel Sousa Tavares. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Em Rio das Flores, Miguel Sousa Tavares constrói um romance que retrata o interior dum Portugal republicano, no entre-guerras, e o antagonismo das opções políticas e de vida de dois irmãos fazendeiros. Fatos reais misturam-se à saga ficcional de uma família de fazendeiros alentejanos, numa misto de jornalísmo e ficção. Após desentender-se com o irmão e com os rumos políticos adotados pelo regime de Salazar, Diogo muda-se para o Rio de Janeiro, em plena ditadura Vargas, para resgatar a empresa de exportação que havia constituído com um sócio alemão que tivera que retornar à Alemanha nazista. Ao chegar ao Rio, Diogo encanta-se com a cidade e exercíta com sucesso sua habilidade para os negócios, a exemplo do que fizeram os inúmeros portugueses que pra cá vieram. Uma impressionante leva de lusos que emigraram para o Brasil e "que agora procuravam na antiga colónia um futuro negado na pátria exangue que haviam deixado para trás"(pág. 376). Na sequência de Equador, Sousa Tavares conta um pouco da história de Portugal e do Brasil, na qual o comércio exterior aparece mais uma vez e acima apresento um breve recorte. Curioso é perceber que no texto ele inverte a situação presente nas piadas contadas em nosso país, colocando o brasileiro como o parvo ou pouco inteligente.
por F@bio
- Com Portugal...
- Não sei onde é que Portugal ficará: se com a Inglaterra, se com Hitler, se em lado nenhum. Mas se ficar com os nazis, também não faremos negócios com Portugal.
Aguinaldo olhou-o, impressionado: as coisas iam mudar. Será que para melhor?
- Bem, então, doutor, temos mesmo que pensar, não é?
- O que precisará uma Europa em guerra, Aguinaldo?
- Armas...
- Sim, armas, claro. Mas nem o Brasil as produz nem nós somos traficantes de armas. Esqueça tudo o que não é produzido aqui ou que não é essencial. O café, o açúcar, as frutas tropicais, nada disso é essencial. Se, de facto, houver guerra, como eu creio, a devastação na Europa vai ser tamanha, que as pessoas vão lutar desesperadamente apenas para viver com o essencial. E o que será então o essencial? Remédios e aparelhos clínicos para tratar os feridos, mas isso o Brasil não produz. Navios, comboios etc., é igual. O que resta?
Aguinaldo coçou a cabeça preocupado: alguma coisa tinha de restar ou a Atlântica desapareceria nos escombros da anunciada guerra européia.
- Resta comida, senhor Aguinaldo!
- Sim, a comida. Imagine a Alemanha, a França, a Inglaterra, todos envolvidos na guerra, com todos os homens mobilizados e, se calhar, também as mulheres. Quem vai tratar da agricultura?
Aguinaldo assentiu, impressionado com a inteligência do patrão.
- Comida, é claro! Como não pensei nisso!
- O Brasil não produz cereais como o trigo, o arroz, o milho, em quantidades suficientes e preços concorrenciais para podermos exportar. Mas produz outras coisas.
- Produz outras coisas... - Aguinaldo esforçava-se para se lembrar de alguma, antes que Diogo o dissesse, mas não conseguiu.
- Feijão e carne, senhor Aguinaldo! Feijão e carne.
- Feijão e carne! Caramba, feijão e carne!
O rosto de Aguinaldo Baptista brilhava agora de felicidade. Feijão e carne, quem diria? Bendita guerra européia que aí vinha.
...
Terminado o pequeno-almoço, descia até à porta do hotel, onde, às oito e trinta em ponto, 'seu' Aguinaldo vinha apanhá-lo para levar aos escritórios da Atlântica no centro, no Chevrolet azul-escuro que ele comprara para o serviço da empresa e que fizera Aguinaldo Baptista acreditar definitivamente que, agora sim, agora a firma estava em fase de investimento e expansão. E estava: Diogo pusera ordem e estratégia em todos os setores do negócio - fornecedores, armazenamento de produtos, fretação de carga em navios, expedição alfandegária, contratos e pagamentos dos clientes no destino, relações com bancos, escrituração e contabilidade. Cada empregado tinha agora tarefas claras estabelecidas e sabia exactamente o que fazer e que resultados se esperavam de si. O negócio de exportação de 'gado de corte', como diziam os brasileiros, era agora a grande aposta de Diogo. Para isso, era absolutamente indispensável que os fornecedores não falhassem - nem no prazo, nem na quantidade, nem no preço, nem na qualidade."
Transcrito de "Rio das Flores" (pág. 342 a 344 e 394 a 395). Romance. Autor: Miguel Sousa Tavares. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Em Rio das Flores, Miguel Sousa Tavares constrói um romance que retrata o interior dum Portugal republicano, no entre-guerras, e o antagonismo das opções políticas e de vida de dois irmãos fazendeiros. Fatos reais misturam-se à saga ficcional de uma família de fazendeiros alentejanos, numa misto de jornalísmo e ficção. Após desentender-se com o irmão e com os rumos políticos adotados pelo regime de Salazar, Diogo muda-se para o Rio de Janeiro, em plena ditadura Vargas, para resgatar a empresa de exportação que havia constituído com um sócio alemão que tivera que retornar à Alemanha nazista. Ao chegar ao Rio, Diogo encanta-se com a cidade e exercíta com sucesso sua habilidade para os negócios, a exemplo do que fizeram os inúmeros portugueses que pra cá vieram. Uma impressionante leva de lusos que emigraram para o Brasil e "que agora procuravam na antiga colónia um futuro negado na pátria exangue que haviam deixado para trás"(pág. 376). Na sequência de Equador, Sousa Tavares conta um pouco da história de Portugal e do Brasil, na qual o comércio exterior aparece mais uma vez e acima apresento um breve recorte. Curioso é perceber que no texto ele inverte a situação presente nas piadas contadas em nosso país, colocando o brasileiro como o parvo ou pouco inteligente.
por F@bio
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Poema ao Cais e aos Navios - J.G. de Araújo Jorge
"Às vezes gosto de flanar à toa pela beira dos cais,
nas horas de descanso ou pela noite a dentro
quando tudo está em paz...
- nos cais onde há guindastes curvos, pensativos,
e navios parados que descansam, quietos,
e navios que partem, fumegantes, vivos...
(Onde há navios parados que descansam, quietos
sobre o mar,
- deixando nas chaminés suaves restos de fumo
como as volutas azuis de um cigarro
abandonado a se queimar...
Navios dionisíacos que partem num desafio
em cada viagem,
indiferentes aos ventos que cantam nos conveses
e ao choque das procelas,
- navios que lá se vão, dias, semanas e meses,
herdeiros das tradições de arrojo e de coragem
que vem de muito longe no bojo das caravelas!
E guindastes monstruosos de esqueletos de aço
recurvos e humildes diante do mar,
- parecem multidões de escravos, em fila,
e que dormissem de pé
cansados de trabalhar...)
..............
Há uma floresta flutuante ao longo de todo o cais,
floresta de mastros nus, de velas enroladas
no bojo dos veleiros que flutuam em paz
e parecem mortos...
- suas sombras se alongam, em fantásticas sombras
nas águas sujas e oleosas, nas águas tristes dos portos...
Que coisas terão visto os olhos daquele marujo
displicente
a enrolar grossos cabos no convés?
- que sóis terão tostado a sua fronte de cobre?
- que chãos terão pisado os seus enormes pés?
(... esse estranho marujo de enormes pés inchados
e um ar paradoxal
de rudeza e abstração,
é preciso que o declare:
- parece que fugiu de algum painel mural
de Portinari...)
Mania essa que eu tenho de andar atrás dos navios
procurando em suas bandeiras multicores
as suas almas distantes,
- almas que vem e vão, nos olhos dos marinheiros
itinerantes!
- e às vezes ficam conosco, nos olhos nostálgicos
dos imigrantes!
Mania essa que eu tenho de acompanhar os navios
como as gaivotas,
elas no ar, em revoadas que se vão deixando
para trás,
- eu, a imaginar seus destinos e rotas
perambulando sem rumo à beira dos longos cais!
Oh, a inveja que tenho desses rudes marujos
de olhos cismadores
que têm os braços tatuados de lembranças efêmeras
em figuras grotescas e infelizes,
- ob, a inveja dos marinheiros e dos pescadores,
que lá se vão mar além, a alma aberta nas quilhas!
aventureiros e sonhadores
de todos os países!
..............
Navio que vens de longe, de que lugares vens?
Navio que vais pra longe, afinal pra onde vais?
- Leva a mensagem de minha alma a um prisioneiro qualquer
que perambule à toa, tal como eu, a sonhar
à beira de outros cais!
nas horas de descanso ou pela noite a dentro
quando tudo está em paz...
- nos cais onde há guindastes curvos, pensativos,
e navios parados que descansam, quietos,
e navios que partem, fumegantes, vivos...
(Onde há navios parados que descansam, quietos
sobre o mar,
- deixando nas chaminés suaves restos de fumo
como as volutas azuis de um cigarro
abandonado a se queimar...
Navios dionisíacos que partem num desafio
em cada viagem,
indiferentes aos ventos que cantam nos conveses
e ao choque das procelas,
- navios que lá se vão, dias, semanas e meses,
herdeiros das tradições de arrojo e de coragem
que vem de muito longe no bojo das caravelas!
E guindastes monstruosos de esqueletos de aço
recurvos e humildes diante do mar,
- parecem multidões de escravos, em fila,
e que dormissem de pé
cansados de trabalhar...)
..............
Há uma floresta flutuante ao longo de todo o cais,
floresta de mastros nus, de velas enroladas
no bojo dos veleiros que flutuam em paz
e parecem mortos...
- suas sombras se alongam, em fantásticas sombras
nas águas sujas e oleosas, nas águas tristes dos portos...
Que coisas terão visto os olhos daquele marujo
displicente
a enrolar grossos cabos no convés?
- que sóis terão tostado a sua fronte de cobre?
- que chãos terão pisado os seus enormes pés?
(... esse estranho marujo de enormes pés inchados
e um ar paradoxal
de rudeza e abstração,
é preciso que o declare:
- parece que fugiu de algum painel mural
de Portinari...)
Mania essa que eu tenho de andar atrás dos navios
procurando em suas bandeiras multicores
as suas almas distantes,
- almas que vem e vão, nos olhos dos marinheiros
itinerantes!
- e às vezes ficam conosco, nos olhos nostálgicos
dos imigrantes!
Mania essa que eu tenho de acompanhar os navios
como as gaivotas,
elas no ar, em revoadas que se vão deixando
para trás,
- eu, a imaginar seus destinos e rotas
perambulando sem rumo à beira dos longos cais!
Oh, a inveja que tenho desses rudes marujos
de olhos cismadores
que têm os braços tatuados de lembranças efêmeras
em figuras grotescas e infelizes,
- ob, a inveja dos marinheiros e dos pescadores,
que lá se vão mar além, a alma aberta nas quilhas!
aventureiros e sonhadores
de todos os países!
..............
Navio que vens de longe, de que lugares vens?
Navio que vais pra longe, afinal pra onde vais?
- Leva a mensagem de minha alma a um prisioneiro qualquer
que perambule à toa, tal como eu, a sonhar
à beira de outros cais!
(Poema de J. G. de Araujo Jorge
extraído do livro Cânticos - 1941)
Obtido em http://www.jgaraujo.com.br/index.html
José Guilherme de Araujo Jorge (1914 - 1987), nasceu no Acre, mas fez carreira no Rio de Janeiro onde militou na política estudantil, no jornalismo, nas letras, no rádio e na política (foi deputado federal pela Guanabara). Conhecido como Poeta do Povo e da Mocidade. No "Poema ao Cais e aos Navios" aborda com grande lirismo o ambiente do cais e da navegação, naus de bandeiras coloridas que vão levando cargas e marujos pelo mundo, liberando seu fumo no ar, rasgando mares, flutuando oceanos, sonhos que a brisa faz perambular pelos portos do mundo, flâmulas flutuantes a procura de um cais.
por F@bio
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Cais - Milton Nascimento
"Cais
Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar".
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar".
Esta canção remete ao cais, ao mar, ao se lançar, portanto não podia faltar no Cargueiro de letras. Criação inspirada de Milton e Ronaldo Bastos. Uma interpretação magistral de Milton, com Tulio Mourão e outros. Veja ainda Milton tocando teclado. Bons tempos do Clube da Esquina e do Festival de Jazz de Montreal. Gravação rara e sensacional, verdadeira obra prima. Show!
por F@bio
por F@bio
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
O Rio de Janeiro - Laurentino Gomes
Transcrito de "1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil" (pág. 153), de Laurentino Gomes. História. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.
Imagem "Vista do Rio de Janeiro defronte à Igreja do Mosteiro de São Bento" entre 1820 e 1825, de autoria de Johann Moritz Rugendas obtido de http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(cidade)
Laurentino Gomes, jornalista paranaense, escreve com grande maestria um livro denso e rico de informações sobre a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasilo, a parte mais rica do reino. O texto é fluido e retrata com grande riqueza de detalhes o contexto geopolítico da vinda da corte para os trópicos. Mostra que o ato foi ousado e arriscado, ainda que com incentivo e proteção inglesa. A vinda da Família Real propiciou grande transformação da colônia e do Rio de Janeiro em particular.
por F@bio
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Aqui nos Encontramos - John Berger
"No domingo seguinte, eu estava no bairro da Baixa, atravessando a imensa praça do Comércio. A Baixa é o único bairro da cidade velha que é plano e baixo. Rodeado em três dos seus lados pelas famosas colinas, o quarto é o estuário do Tejo, conhecido como mar de Palha, porque suas águas, vistas sob certa luz, têm um reflexo dourado. Durante o século quinze, das suas plataformas de embarque e desembarque, os navegadores de Lisboa, comerciantes e mercadores de escravos partiram para a África, para o Oriente e, mais tarde, para o Brasil. Lisboa era na época a capital mais rica da Europa, negociando tudo que desafiasse o Atlântico: ouro, escravos do Congo, sedas, diamantes, especiarias."
Transcrito de "Lisboa" em "Aqui nos encontramos". Romance e narrativa ficcional de John Berger. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
Foto obtida de www.vertigomagazine.co.uk
Berger é considerado um dos mais importantes romancistas ingleses. De novo temos um texto sobre as epopéias portuguesas e a importância de Lisboa no Séc. XV, como centro de comércio, especialmente de produtos vindos de outros continentes. A riqueza de Portugal advinha do domínio dos mares. Tráfico de escravos e comércio internacional de mercadorias vindas da Ásia, África e Américas. Na linda construção de Berger: "negociando tudo que desafiasse o Atlântico."
Transcrito de "Lisboa" em "Aqui nos encontramos". Romance e narrativa ficcional de John Berger. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
Foto obtida de www.vertigomagazine.co.uk
Berger é considerado um dos mais importantes romancistas ingleses. De novo temos um texto sobre as epopéias portuguesas e a importância de Lisboa no Séc. XV, como centro de comércio, especialmente de produtos vindos de outros continentes. A riqueza de Portugal advinha do domínio dos mares. Tráfico de escravos e comércio internacional de mercadorias vindas da Ásia, África e Américas. Na linda construção de Berger: "negociando tudo que desafiasse o Atlântico."
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