sábado, 25 de agosto de 2018

Tocaia Grande - Jorge Amado

Tocaia Grande
"...
As casas exportadoras, quase todas alemãs e suíças, uma única brasileira - a menor e a  mais ladrona, segundo os maldizentes - travavam uma batalha de manha e de prestígio nas diversas áreas da região cacaueira a fim de ganhar e garantir a freguesia dos fazendeiros. Dos pequenos, facilitando-lhes adiantamentos por conta do cacau a ser entregue, dos grandes oferecendo-lhes comodidades e vantagens. Devido a seu Cícero Moura e, sobretudo, a seu Carlinhos Silva, Koifman & Cia ampliara seus negócios nos limites do rio das Cobras, acaparando boa parte da produção da zona. Com o objetivo de facilitar a vida dos cacauicultores, em especial dos menores, libertando-os da obrigação de entregar o produto na matriz de Ilhéus ou na filial de Itabuna, diminuindo o percurso e a despesa, seu Carlinhos propôs a Kurt Koifman, patrão e ex-parente, o estabelecimento de um depósito em Tocaia Grande, localidade bem situada e de futuro, para ali receber e estocar o cacau..."

Transcrito do romance "Tocaia Grande: a face obscura", de Jorge Amado. Rio de Janeiro: 8ª ed., Record, 1986 (págs. 340/341).
Adicionar legenda


Jorge Amado já na maturidade retoma a temática da região cacaueira, construindo sua narrativa com seu rico tempero: pitadas de sexo, violência, religiosidade, misticismo, lealdade, traição e, sobretudo, denúncia social. O romance trata do desbravamento e conquista de uma das últimas fronteiras do sul da Bahia, luta pela apropriação e derrubada da mata para plantio do cacau no conhecido ciclo do coronelismo. Terras conquistadas pelas mãos de jagunços e trabalhadores serviçais, a base de tramoias e tocaias. A trama envolve a formação de um povoado por pessoas simples e desvalidas que vieram ocupar um trecho esquecido nas margens do rio das Cobras. O nome do lugar - Tocaia Grande - revela sua origem. Tendo como personagem central um jagunço visionário que se torna fazendeiro e capitão, mas que não abandona sua gente. Mas outros personagens principais vão  surgindo ao longo do livro, incluindo muitas mulheres, como Coroca, a velha prostituta que se torna parteira e por fim pistoleira. Amado vai agregando outros personagens formando um amalgama de tipos diversos, como o imigrante árabe, o ex-escravo ferreiro, macumbeiro e ex-amante da madama, os retirantes  nordestinos, o sanfoneiro, as prostitutas, os tropeiros... Neste Brasil desigual e violento, construíram um lugar de paz e harmonia que vivia a margem do mundo oficial até que se torna objeto de cobiça e da "lei" dos poderosos.
Por F@bio