A idéia é, como um navio cargueiro, recolher e reunir escritos da literatura que nos encantaram. Que tal navegar comigo, sugerir, criticar, interagir? Poste seu comentário e torne-se um amigo do Blog.
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Ver Navios - Haroldo de Campos
VEM NAVIO
VAI NAVIO
VIR NAVIO
VER NAVIO
VER NÃO VER
VIR NÃO VIR
VIR NÃO VER
VER NÃO VIR
VER NAVIOS
Haroldo de Campos (1929 - 2003), paulistano, poeta, tradutor e professor. Haroldo e o irmão Augusto foram dois dos grandes nomes da poesia concreta, parte do Concretismo, movimento artístico originário do Abstracionismo Geométrico que a partir do anos 30 do Século passado marcou a criação plástica e poética na Europa. A poesia concreta procura valorizar o espaço e o grafismo, tornando a pontuação desnecessária, pois espaço e a forma geométrica dão às palavras uma maior plasticidade.
Em 1952, Haroldo, Augusto e Décio Pignatari rompem com o Clube da Poesia do qual faziam parte desde 1949, por divergirem do conservadorismo predominante. Criam o grupo "Noigandres" e passam a publicar poemas em sua revista. Em 1956 lançam o movimento concretista, ao qual Haroldo se manteve fiel até 1963, quando volta-se para o projeto do livro-poema "Galáxias".
A seguir, uma análise sucinta e interessante do poema feita pelo professor Kleber Henrique (http://poemasdeamoremorte.blogspot.com.br/2011/02/poesia.html):
"Nessa poesia de Haroldo de Campos, nota-se a decomposição da expressão “ver navios” a fim de produzir novas significações. Além das oscilações produzidas pela repetição (assonância) do fonema / v /, o que nos remete ao balanço do mar, vejo a tensão da espera do eu-lírico pelo navio que nunca vem na consoante / r /. A hesitação do seu humor e a angústia da possibilidade da chegada com a frustração da ausência, afiguram-se na variação dos ditongos / io / do começo com o / ão / a partir do verso 5, enfim, a náusea de ficar a “ver navios”."
Assim, à configuração gráfica que remete a um barco, junta-se o som da correta dicção, com suas pausas e acentos, a provocar o sentimento que o texto traz implícito. É o poeta ampliando as sensações da letra de sua poesia.
Por F@bio
terça-feira, 8 de novembro de 2016
A Carga - Ledo Ivo
Uma rua me conduzia até o porto.
E eu era a aruá com as suas janelas dilaceradas
E o sol depositado na areia materna.
Eu levava para a beira do mar tudo o que surgia
À minha passagem: portas, rostos, vozes, colônias de cupim e
Réstias de cebola que amadureciam na sombra
Dos armazéns providos. E sacos de açúcar. E as chuvas
Que haviam enegrecido os telhados das casas.
Era um dia de dádivas. Nada estava perdido.
As ondas celebravam a beleza do mundo.
A terra ostentava a promessa de vida.
E eu depositava a minha leve carga
Nos porões dos navios enferrujados.
Obtido de http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/brasil/ledo_ivo.html
Lêdo Ivo - jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Alagoano, nascido em Maceió em 1924 faleceu em 2012 em Sevilha, Espanha.
Todos carregamos nossas cargas de vida. Lembranças, dores, amores, sonhos, recordações, espantos, assombrações, medos, o sol e o sal. Levamo-nas em nossa jornada pelos caminhos que temos que trilhar até poder depositá-las nos depósitos de nossas memórias, navios enferrujados, revolvidos em nossas terapias.
Por F@bio
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