sábado, 8 de outubro de 2011

Poema Dos Olhos Da Amada - Vinicius de Moraes

Oh, minha amada
Que os olhos teus

São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus

Oh, minha amada
Que olhos os teus

Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus

Oh, minha amada
Que olhos os teus

Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus

Ah, minha amada
De olhos ateus

Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus

Obtido de http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/86575/


Vinicius de Moraes dispensa apresentações. Nosso diplomata, poeta, músico e até cantor. Na verdade um encantador. Qual mulher restiria à sua prosa, versos galantes, sutis, amantes?
Estava procurando algo dele para postar no Cargueiro e me deparei com esse lindo poema que, para falar dos olhos da amada, remete ao cais, docas, navios, naufrágios, portanto à temática do blog, que fica assim mais leve, com os versos do poetinha.
Olhos da amada são o lume que indicam o caminho a seguir no escuro da noite, no breu dos mares, no sobe e desce dos humores, no vai e vem dos amores. A luz desse olhar, desfaz o mistério e lança esperança aos apaixonados. Os versos de Vinicius embalam nossos corações.
Por
F@bio   

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Onda - Manuel Bandeira

A ONDA
A onda
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda


Seu nome completo: Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, nasceu em Recife, dia 19 de abril de 1886 e morreu aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, dia 13 de outubro de 1968. Foi um grande poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Escreveu alguns poemas que também encantam as crianças, como A Onda.


Neste poema Bandeira brinca com os sons e a métrica, criando um movimento que remete ao ondular do mar. Repare que usou apenas quatro vogais e duas consoantes, pra que mais? Lendo no ritmo certo, a gente acaba mareado. Esse poema não encanta apenas as crianças, mas a todos os admiradores da arte das palavras. Viva Bandeira!
Por F@bio
P.S.: A caricatura de Manuel Bandeira é de outro poeta, o também genial Carlos Drummond de Andrade.

sábado, 24 de setembro de 2011

Terras do Sem Fim - Jorge Amado

"Ferradas nascera em torno de um armazém de cacau... Ao lado do armazém foram surgindo casas, em pouco tempo se abriu uma rua de lama, dois ou três becos a cortaram...Tropeiros, que vinham conduzindo tropa de cacau seco das fazendas mais distantes, pernoitavam..."

Transcrito de "Terras do sem fim" de Jorge Amado, págs. 140 e 141, 71ª edição. Romance. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Jorge Amado, inspirado pela saga de seu pai, que emigrou da Paraíba atraído pelas riquezas do cacau, situa seu romance na região sul-bahiana na época do desbravamento das matas para plantio das roças de cacau, no início do Sec. XX. A epopéia é levada por homens que com suor, machados, facões, foices, enxadas, armas, jagunços, tocaias, traições e caxixes, plantam as lavouras de cacau que fizeram a riqueza daquela região, antes do advento da vassoura-de-bruxa, praga de arrazou as plantações no final do século. A força dessa cultura foi tão grande que alguns chegam a denominar "o ciclo do cacau", junto com outros ciclos econômicos brasileiros, como: ouro, borracha, café, açúcar etc. O romance, que narra a contenda entre Horácio da Silveira e os Badarós, termina com a vitória do primeiro e tem sequência em "São Jorge dos Ilhéus".
O trecho transcrito remete às minhas origens. Nasci no hoje município de Varre-Sai, no noroeste do Estado do Rio de Janeiro. A cidade foi constituída à semelhança de Ferradas, em torno de um rancho onde pernoitavam tropeiros de café com suas mulas. Dizem que a proprietária do local colocou uma placa para alertar os tropeiros que deveriam limpar a sujeira deixada por seus animais antes de partir: "varre e sai". Daí a alcunha. As tropas, vindas de fazendas distantes, levavam os grãos de café até armazéns de empresas comerciais e dessas para o porto de Vitória ou do Rio de Janeiro e de lá embarcados para o exterior. Meu pai contava muitas histórias de como as matas foram desbravadas para o plantio de cafezais, como na fazenda em que nasci. Mas, não me lembro de referências a jagunços e caxixes.
Por F@bio

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Planta de Maceió - Ledo Ivo

De: Ledo Ivo

O vento do mar rói as casas e os homens.
Do nascimento à morte, os que moram aqui
andam sempre cobertos por leve mortalha
de mormaço e salsugem. Os dentes do mar
mordem, dia e noite, os que não procuraram
esconder-se no ventre dos navios
e se deixam sugar por um sol de areia.
Penetrada nas pedras, a maresia
cresta o pêlo dos ratos perdulários
que, nos esgotos, ouvem o vômito escuro
do oceano esvaído em bolsões de mangue
e sonham os celeiros dos porões dos cargueiros.
Foi aqui que nasci, onde a luz do farol
cega a noite dos homens e desbota as corujas.
A ventania lambe as dragas podres,
entra pelas persianas das casas sufocadas
e escalavra as dunas mortuárias
onde os beiços dos mortos bebem o mar.
Mesmo os que se amam nesta terra de ódios
são sempre separados pela brisa
que semeia a insônia nas lacraias
e adultera a fretagem dos navios.
Este é o meu lugar, entranhado em meu sangue
como a lama no fundo da noite lacustre.
E por mais que se afaste, estarei sempre aqui
e serei este vento e a luz do farol,
e minha morte vive na cioba encurralada.

Obtido de: http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/cidbr/maceio/maceio02.php                       

Ledo Ivo é esse poeta mordaz e instigador, que nos oferece versos sombrios e rascantes. Versos que falam de uma Maceió lamacenta e lúgrube, como são, em geral, as zonas portuárias. Prédios em ruinas, recantos escuros, lixo e lodo, restos e resíduos dos que seguiram seu curso ou foram o que não mais serão. Erodidos pelo vento, pela chuva, pela areia, pelo sal, pela vida...fodidos!
Por
F@bio

sábado, 9 de julho de 2011

Oriente - Gilberto Gil

De: Gilberto Gil

Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração


Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação


Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão



Obtido de: letras.terra.com.br/gilberto-gil/376449/


Gilberto Gil, um musico e compositor que muito admiro. Nesta letra de métrica tão sutil e sofisticada, ele nos fala de Oriente e oriente, num jogo de sentidos e metáforas. O marinheiro se orienta pelas constelações. Aqueles que levam cargas pro e do oriente, desde as primitivas rotas da seda, orientam-se. O cargueiro que leva mil coisas em seu porão, leva também o rapaz que busca a continuidade do sonho de Adão...proliferação. E quais povos seguem com vigor esse sonho? Os que estão no Oriente, certamente.
A letra de Gil fala do "cargueiro do Loyd", a empresa de navegação estatal que deixou sua marca no Sec. XX. Vários autores romanceiam histórias nos navios do Loyd. Tive a oportunidade de visitar um, no porto de Ilhéus. Era o Loyd Pacífico lá pelos anos 80, mas que já tinha a cabine de comando toda informatizada, uma jóia, que foi sucateado em razão dos problemas de gestão enfrentados pelas empresa. Falta de consideração...
Por
F@bio

sábado, 2 de julho de 2011

Antielegia às crianças velhas - Carlos Nejar

De: Carlos Nejar




"Todos podem ver o amor
e o amor não vê no cais
crianças carregando fardos,
entre adultos, carregando
a fonética dor de ir cedo
ou sem murmúrio,
envelhecendo.

E no orfanato o sonho
é bem menos exato
do que a dor.
Que piedade tem
a pobreza, que
misericórdia
no trabalho?
E andarão,
meninos, com
cargueiros
vergando o peito
cândido. Atrás
de uma rua,
uma casa
na infância.

Cada passo
é um túnel.
Cada passo,
um navio
que transporta
pedras e açucenas.
Cada passo, porta
que fermenta
surdos ossos, fuzis.

Cada porta, é a criança
chorando atrás da porta.
Cada lágrima
é a noite que rebenta."


Obtido de: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/2421/1895


Carlos Nejar (Luiz C. Verzoni N.), advogado, professor e poeta, nasceu em Porto Alegre, RS, em 11 de janeiro de 1939. Além dos títulos de romancista, contista, dramaturgo, filósofo e historiador da literatura, Nejar é também chamado de "o poeta do pampa brasileiro".
Nos versos acima, Nejar nos brinda com esses versos cheios de lirismo e dor. Um retrato poético desse nosso país cheio de desigualdades, que ninguém vê, ou não quer ver. Cegos e surdos no amor. Não há sonho, não há misericódia, só meninos invisíveis carregando seu pesado fardo de dor, vergados pela carga do descaso.  
By
F@bio

domingo, 29 de maio de 2011

Poesia Entre o Cais e o Hospital - Adalgisa Nery

De: Adalgisa Nery

"Geme no cais o navio cargueiro
No hospital ao lado, o homem enfermo.
O vento da noite recolhe gemidos
Une angústias do mundo ermo.
Maresia transborda do mar em cansaço,
Odor de remédios inunda o espaço.
Máquina e homem, ambos exaustos
Um, pela carga que pesa em seu bojo
Outro, na dor tomando o seu corpo.
Cais, hospital: Portos de espera
E começo de fim da longa viagem.
Chaminés de cargueiros gritando no mar,
Garganta do homem em gemidos no ar.
No fundo, o universo,
O mar infinito,
O céu infinito,
O espírito infinito.
Neblinados em tristezas e medos
Surgem silêncios entre os rochedos.
Chaminés de cargueiros gritando no mar
E a garganta do homem em gemidos no ar."



Poesia e biografia obtida em http://www.revista.agulha.nom.br/adn.html#bio
Foto obtida em http://inspiracoesreunidas.blogspot.com/p/adalgisa-nery.html

Adalgisa Nery, foi poeta, jornalista, prosadora e política. Nasceu no Rio de Janeiro, filha de um funcionário municipal. Órfã de mãe desde os 8 anos, estudou como interna num colégio de freiras. Aos 16 anos, casou-se com o pintor paraense Ismael Nery, um dos precursores do modernismo. O casamento durou até a morte de Ismael, em 1934.
Lançou seu primeiro livro de poemas em 1937. Casou-se em segundas nupcias com o diretor do DIP no estado novo e desfrutou da vida diplomática, vijando pelo mundo.
Separada, dedicou-se ao jornalismo e passou a militante política. Foi deputada três vezes pela legenda do Partido Socialista Brasileiro. Depois do golpe militar de 1964, filiou-se ao MDB e foi cassada em 1969.
Em 1976, Adalgisa recolheu-se a uma clínica para idosos, no Rio. Um ano depois, sofreu um acidente vascular que a deixou hemiplégica. Morreu em 1980.
Autora de poemas, contos, crônicas e romances, Adalgisa teve seus dias de glória. Viúva aos 29 anos e dona de um perfil de mulher fatal, consta que ela destroçava corações. "Acho que todos nós a amávamos, mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de Andrade após a morte dela. Também se sabe que o poeta Murilo Mendes foi perdidamente apaixonado por Adalgisa.

Em "Poesia entre o cais e o hospital" Adalgisa traça um paralelo entre o homem recolhido ao leito hospitalar e o velho navio cargueiro atracado no cais. Ambos moribundos pelo corrosão do tempo. Gemem e rangem nos seus estertores. O começo do fim da longa vida. A espera no cais - leito, gritos ecoam de suas bocas chaminés. No infindo mar-céu, aproxima-se o rochedo que porá fim às suas jornadas.
Por
F@bio

sábado, 7 de maio de 2011

Viver para contar - Gabriel García Márquez

"Os ventos alísios estavam tão bravos naquela noite que no porto fluvial tive muito trabalho em convencer minha mãe a embarcar. Não lhe faltava razão. As barcaças eram imitações reduzidas de barcos a vapor de Nova Orleans, mas com motores a gasolina que transmitiam um tremor de febre malsã a tudo que estivesse a bordo. Tinham um salãozinho com forquilhas para dependurar redes em diferentes alturas, e bancos de madeira onde cada um se acomodava a cotoveladas e do jeito que desse com suas bagagens excessivas, seus fardos de mercadorias, os engradados de galinhas e até porcos vivos. Havia uns poucos camarotes sufocantes com dois beliches de quartel, quase sempre ocupados por umas pobres putinhas mal-ajambradas que ofereciam serviços de emergência durante a viagem. Como à última hora não encontramos nenhum camarote livre, nem tínhamos redes, minha mãe e eu tomamos de assalto duas cadeiras de ferro do corredor central e nelas nos dispusemos a passar a noite".



Transcrito de "Viver para Contar" (pag. 10), de Gabriel Garcia Marques, tradução de Eric Nepomuceno. Biografia. 2ª Edição, Rio de Janeiro: Record, 2003.
Foto de Gabriel aos 5 anos em Aracataca obtida em http://www.bbc.co.uk/spanish/seriemilenio03fotos.htm


Quando comecei a ler a autobiografia de Garcia Marquez, li de uma carreira só, pois a história de vida do grande romancista colombiano me contagiou. Encontrei nela muitas semelhanças com minha própria história de vida, embora saiba que muito do contado o foi como guardamos na memória, um relato muito mais daquilo que sentimos do que dos fatos realmente ocorridos. Aliás, o próprio Garcia Marquez cota no início da obra: "A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como a recorda para contá-la". E ele inicia sua história contando a viagem que fez com sua mãe à cidade, ou melhor, ao povoado de Aracataca, onde viveu sua infância e fonte de inspiração de seus principais romances.
Por vezes também fui com minha mãe ao povoado onde nasci, Varre-Sai - RJ, que poderia ter inspirado muitas histórias de realismo mágico, lá tivesse nascido um escritor da verve do romancista colombiano.
Conta Garcia Marquez que sua mãe envelheceu rápido, tendo somado onze partos, havia passado quase dez anos grávida e pelo menos outros tantos amamentando seus filhos.  Minha mãe teve oito filhos e ainda criou outros três. Também ficou grisalha muito nova, antes dos quarenta. Igualmente usava óculos e qual Luisa Santiaga, conservou uma "beleza romana dignificada por uma aura outonal".
Aproveitando que amanhã é dia das mães, deixo aqui o registro dessa história de mães generosas e parideiras, Luisa e Maria Ignez, que souberam tão bem arar seus jardins para depositar sementes, depois cuidar de suas plantas, germinadas de muito amor e tratadas com muito carinho.
Por
F@bio

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Marinheiro Triste - Manuel Bandeira

De: Manuel Bandeira

"Marinheiro triste
Que voltas para bordo
Que pensamentos são
Esses que te ocupam?
Alguma melhor
Amante de passagem
Que deixaste longe
Num porto de escala?
Ou tua amargura
Tem outras raízes
Largas fraternais
Mais nobres mais fundas?
Marinheiro triste
De um país distante
Passaste por mim
Tão alheio a tudo
Que nem pressentiste
Marinheiro triste
A onda viril
De fraterno afeto
Em que te envolvi.

Ia triste e lúcido
Antes melhor fora
Que voltasses bêbedo
Marinheiro triste!
E eu que para casa
Vou como tu vais
Para o teu navio
Feroz casco sujo
Amarrado ao cais,
Também como tu
Marinheiro triste
Vou lúcido e triste.
Amanhã terás
Depois que partistes
O vento do largo
O horizonte imenso
O sal do mar alto!
Mas eu, marinheiro?

- Antes melhor fora
Que voltasse bêbedo."

Obtido de: http://books.google.com.br/books?id=bOnlcOoMNowC&pg=PA65&lpg=PA65&dq=poesia+%2B+porto+%2B+cais+%2B+navio+%2B+manuel+bandeira&source=bl&ots=WyeKiNUic2&sig=5iFAwy89yyShU-iE6HsxDfwHlj8&hl=pt-BR&ei=RuiXTcvlNKWx0QHV8IHlCw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CDQQ6AEwBA#v=onepage&q&f=false

Manuel Bandeira mestre da poesia aqui nos fala do marinheiro, o homem do mar, que deixa a terra firme (??) para se lançar ao mar, solitário. Ficam pra trás a amante, os amigos, a casa, o cais...
Vai descortinar o largo horizonte, desbravar o mar, encontrar outros amigos, amantes, casa e cais.
Marinheiro alheio que sempre volta pra bordo, suas raízes não estão aqui, mas em todo lugar, no mar, em outras terras, será?
Por isso o poeta o prefere bêbado, para sem lucidez alguma não partir o coração de quem fica.
Por
F@bio

sábado, 2 de abril de 2011

Os voluntários - Moacyr Scliar

De: Moacyr Scliar

"Este barco - veleiro, ou lancha a motor, ou velho navio, qualquer coisa, este barco era o meu sonho. Me via descendo o Guaíba, passando Itapuã, navegando na lagoa, chegando ao mar, à África. Só em sonhos: barco era coisa proibida. Meu pai, homem habitualmente tolerante, era taxativo nessa exigência. Este rio é muito traiçoeiro, argumentava, e de fato, não era raro que cadáveres aparecessem boiando nas águas barrentas. Ao mesmo tempo me consolava: quando cresceres, poderás ter o teu veleiro. Primeiro trata de terminar o ginásio".

Transcrito de "Os Voluntários" (págs. 25 e 26). Romance. Porto Alegre: LP&M, 2001.

Esta é a homenagem do Cargueiro de Letras ao grande escritor brasileiro Moacyr Scliar, gaúcho de Porto Alegre, médico sanitarista e autor de mais de setenta livros, passando pela ficção, ensaio, crônica e literatura infantojuvenil. Scliar, falecido no último dia  27 de fevereiro de 2011, era membro do ABL e colunista do Zero Hora e Folha de S.Paulo. Em Os Voluntários temos uma história densa de amizade e companherismo que leva os amigos a tentarem realizar um sonho acalentado por uma amigo moribundo, o de conhecer Jerusalém. Acabam por se lançar numa louca e frustrada aventura pelo Guaíba. Num velho e maltratado rebocador deixam o cais de Porto Alegre rumo ao porto de Haifa em Israel. Na tripulação: quatro homens, uma mulher e um moribundo. Os voluntários na viagem são pessoas cuja amizade foi construída na Rua Voluntários da Pátria, pitoresca e barulhenta artéria da região portuária da capital do RS. Tive a oportunidade de conhece-la, mas não foi possível reconhecer o ambiente, casas e comércio citados no livro. Talvez só tenham existido na ficção de Scliar.
Nasci numa fazenda que tinha um açude, construído para represar água com o objetivo de mover moinhos (de milho e mandioca) e um gerador. Me lembro que meu pai não permitia que fossemos ao açude e muito menos navegássemos no bote que lá existia. Uma vez, devia ter 5 ou 6 anos, fui ao açude com algumas pessoas. Na volta levei uma surra de cinto do meu pai. Ele também era taxativo nessa exigência: ir ao açude era proibido.
Por
F@bio

P.S.: Nas fotos ao lado direito, pode-se ver um belo por do sol visto do cais do porto de Porto Alegre. Há outras do mesmo porto.