sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Trem de ferro - Manuel Bandeira

Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!
Oô…
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo…
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo…
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…


Obtido de: http://eraumavezuem.blogspot.com.br/2012/12/viajando-no-trem-de-ferro-de-manuel.html


Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, nasceu em Recife, dia 19 de abril de 1886 e morreu aos 82 anos, no Rio de Janeiro, no dia 13 de outubro de 1968. Um dos maiores poetas do Brasil, foi também crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Escreveu alguns poemas que também encantam as crianças, como Trem de Ferro e A Onda (veja postagem neste blog).

Interessante como Bandeira elaborou o poema para que sua leitura remetesse a imagens acústicas que lembram os sons produzidos por um trem em movimento, particularmente o trem a vapor, conhecido como Maria Fumaça no Brasil. A musicalidade está presente na obra de Bandeira e Trem de Ferro faz "a alegórica da cadência do trem em diferentes velocidades".

O trem teve grande importância na formação econômica do Brasil, que contou com uma das maiores malhas ferroviárias do mundo no início do século XX. Ocorre que houve uma grande guinada em meados do século passado em favor da indústria automotiva: "Governar é abrir estradas" foi o lema do governo Washington Luiz. Essa indústria passou a ter
importância fundamental nas políticas econômicas implementadas pelos diferentes governos nacionais desde então. Com isso, deu-se o sucateamento da malha ferroviária que não se recuperou até os dias de hoje, mesmo após ser privatizada, diferentemente dos principais países do mundo que contam com relevante participação desse modal no transporte de cargas.

Ao observar a rede de linhas férreas do Brasil, verifica-se que quase todas tinham como destino final um porto, para onde levavam cargas de exportação, particularmente de produtos agrícolas e minerais, e no retorno traziam cargas de importação, geralmente produtos manufaturados e combustíveis.

O poema de Bandeira nem precisava ser musicado, mas o foi magistral e deliciosamente pelo maestro Tom Jobim em 1986.



Ô trem bão sô!
Por F@bio

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Pralapracá - Cassiano Ricardo

Pralapracá


E começa a longa história
do navio que ia e vinha
pela estrada azul do Atlântico:

Ia, levando pau-brasil
e homens cor da manhã, filhos do mato,
cheios de sol e de inocência;
vinha trazendo degredados...

Ia, levando uma esperança;
vinha trazendo foragidos de outras pátrias
para a ilha da Bem-aventurança.

Ia levando um grito de surpresa,
da terra criança;
e vinha abarrotado de saudade
portuguesa ...


Obtido do site da Fundação Cultural Cassiano Ricardo: http://www.fccr.sp.gov.br/index.php/institucional/151-cassiano-ricardo/577-livro-08?showall=1

Jornalista, poeta e ensaísta nascido em São José dos Campos - SP (1895). Estudou em São Paulo e Rio de Janeiro. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Transitou do simbolismo ao modernismo e concretismo. Foi um ativista incansável. No modernismo participou dos grupos "Verde Amarelo" e "Anta". Trabalhou nos jornais Correio Paulistando (SP) e A Manhã (RJ). Fundou as revistas: Novíssima e Planalto. Presidiu o Clube da Poesia em São Paulo. Foi das Academias Paulista de Letras e Brasileira de Letras.
Pralapracá  é a síntese do comércio exterior. Carga vai carga vem. Mas também vai esperança e volta saudade. Neste blog foi publicada a poesia "Céu e Mar" de Cassiano Ricardo. Salve o grande poeta sãojoanense.
Por F@bio