sábado, 2 de abril de 2011

Os voluntários - Moacyr Scliar

De: Moacyr Scliar

"Este barco - veleiro, ou lancha a motor, ou velho navio, qualquer coisa, este barco era o meu sonho. Me via descendo o Guaíba, passando Itapuã, navegando na lagoa, chegando ao mar, à África. Só em sonhos: barco era coisa proibida. Meu pai, homem habitualmente tolerante, era taxativo nessa exigência. Este rio é muito traiçoeiro, argumentava, e de fato, não era raro que cadáveres aparecessem boiando nas águas barrentas. Ao mesmo tempo me consolava: quando cresceres, poderás ter o teu veleiro. Primeiro trata de terminar o ginásio".

Transcrito de "Os Voluntários" (págs. 25 e 26). Romance. Porto Alegre: LP&M, 2001.

Esta é a homenagem do Cargueiro de Letras ao grande escritor brasileiro Moacyr Scliar, gaúcho de Porto Alegre, médico sanitarista e autor de mais de setenta livros, passando pela ficção, ensaio, crônica e literatura infantojuvenil. Scliar, falecido no último dia  27 de fevereiro de 2011, era membro do ABL e colunista do Zero Hora e Folha de S.Paulo. Em Os Voluntários temos uma história densa de amizade e companherismo que leva os amigos a tentarem realizar um sonho acalentado por uma amigo moribundo, o de conhecer Jerusalém. Acabam por se lançar numa louca e frustrada aventura pelo Guaíba. Num velho e maltratado rebocador deixam o cais de Porto Alegre rumo ao porto de Haifa em Israel. Na tripulação: quatro homens, uma mulher e um moribundo. Os voluntários na viagem são pessoas cuja amizade foi construída na Rua Voluntários da Pátria, pitoresca e barulhenta artéria da região portuária da capital do RS. Tive a oportunidade de conhece-la, mas não foi possível reconhecer o ambiente, casas e comércio citados no livro. Talvez só tenham existido na ficção de Scliar.
Nasci numa fazenda que tinha um açude, construído para represar água com o objetivo de mover moinhos (de milho e mandioca) e um gerador. Me lembro que meu pai não permitia que fossemos ao açude e muito menos navegássemos no bote que lá existia. Uma vez, devia ter 5 ou 6 anos, fui ao açude com algumas pessoas. Na volta levei uma surra de cinto do meu pai. Ele também era taxativo nessa exigência: ir ao açude era proibido.
Por
F@bio

P.S.: Nas fotos ao lado direito, pode-se ver um belo por do sol visto do cais do porto de Porto Alegre. Há outras do mesmo porto.

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